A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu dois processos para analisar a conduta da Vale na divulgação ao mercado sobre o rompimento da barragem em Brumadinho (MG), na última sexta-feira 25. De acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais foram confirmadas 60 mortes e 292 pessoas desaparecidas até a manhã desta segunda-feira, 28.
Nos processos administrativos, o órgão vai apurar se a mineradora seguiu os procedimentos de divulgação dos fatos relevantes a investidores em ações da companhia.
O impacto da tragédia foi sentido nos papéis da mineradora na bolsa de valores. Às 16h10, as ações operavam em queda de 23,7%, valendo 42,82 reais. O Ibovespa também operava em queda de 2,20%, com 95.533.
Segundo a CVM, ainda não há acusações sobre infrações a regras de divulgação e a abertura de processo administrativo representa o início da análise pelo órgão regulador.
Após a ruptura da barragem a Vale divulgou cerca de 17 textos, entre eles notas à imprensa, comunicados e atualizações.
Mercado espera questão regulatória
Segundo relatórios de mercado de empresas de investimento, a tragédia pode tornar mais dura a regulamentação no setor. E de acordo também com analistas de investimentos, a ruptura da barragem não deve ter grande impacto na produção da mineradora.
O desastre aconteceu pouco mais de três anos depois que uma barragem da Samarco rompeu-se em Mariana (MG), levando a 19 mortes e poluindo o Rio Doce, o que pode justificar medidas do governo como inspeções adicionais de segurança em minas, com possível impacto em operações, e até mesmo uma visão mais severa de autoridades sobre o incidente anterior.
“A Vale deve ter flexibilidade, dada sua capacidade ociosa, de potencialmente compensar quaisquer perdas de curto prazo nos embarques que poderiam se desdobrar a partir deste local com outras operações, e ainda entregar [uma produção] dentro de sua projeção anual, em nossa visão”, escreveram analistas do Credit Suisse em nota a clientes no domingo.
A Vale, a maior produtora global de minério de ferro, havia projetado produzir 400 milhões de toneladas da commodity em 2019.
“É importante notar que essa ‘capacidade não utilizada’ não depende de licenças ou aprovações para retomar a produção. Portanto, a menos que haja novas instruções do governo (como, por exemplo, uma ordem para suspender outras operações que dependem de barragens de rejeitos), acreditamos que não deve ser sentido impacto na produção”, acrescentaram os analistas.
De acordo com os profissionais do BTG, a mina do Feijão, no complexo Paraopeba, produziu cerca de 7,8 milhões de toneladas em 2017 e provavelmente um nível similar em 2018, “o que significa aproximadamente 2% da produção total de minério de ferro da Vale”, estimada em perto de 390 milhões de toneladas no ano passado.