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Coronavírus: Demanda por crédito para MPEs cresce 75% com crise

Segundo pesquisa da FGV, pode faltar 289 bilhões de reais em empréstimo para o segmento devido à falta de apetite dos bancos

Por Felipe Mendes Atualizado em 23 jun 2020, 12h07 - Publicado em 23 jun 2020, 11h55

A pandemia do novo coronavírus tem feito empresas de pequeno e médio porte e microempreendedores individuais sofrerem. Com a crise gerada pelo fechamento do comércio e a queda do consumo, a demanda por crédito de MPEs será 75% maior este ano em relação a 2019, segundo uma estimativa da Fundação Getulio Vargas, a FGV. O problema é que, com a restrição dos bancos privados, que projetam mais risco de sofrerem calote, o acesso será ainda mais escasso. O estudo da FGV traçou três cenários. Todos constataram que o apoio dos bancos será insuficiente para evitar falências e, portanto, um aumento expressivo no desempregados num futuro próximo. No melhor deles, as instituições financeiras deixarão de fornecer 116 bilhões de reais a esse público. No pior cenário, a demanda não atendida será de 289 bilhões de reais.

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No Brasil, existem hoje 9,8 milhões de empreendimentos classificados como microempreendedor individual (MEI); 6,6 milhões de microempresas (ME); e 900.000 empresas de pequeno porte (EPP). Com a retração de crédito, elas são as companhias quem mais tendem a sofrer na crise. “Muito provavelmente nós teremos um cenário de número elevado de falências e de pessoas desempregadas, porque não há sinais evidentes de que o crédito esteja chegando a essas empresas. Algumas situações [de acesso ao crédito por parte das micro e pequenas empresas] foram postas no papel pelo governo, mas pouco, de fato, entrou em prática”, analisa Lauro Gonzalez, professor e coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV.

A limitação da oferta de crédito faz com que, em boa parte das vezes, os recursos próprios sejam empregados para aporte em capital fixo e, caso haja alguma sobra, utilizados para investimentos em capital de giro. Como o excedente geralmente é insuficiente, as vendas são cruciais para a necessidade de capital de giro. Usa-se, por exemplo, o método de antecipação de recebíveis de vendas em cartões de crédito. Porém, como as vendas caíram abruptamente devido à pandemia, as MPEs perderam uma importante fonte de financiamento. Sem acesso ao crédito nos bancos, elas tendem a efetuar medidas para compensar essa falta de recursos, como efetuar demissões no seu quadro de funcionários. “Mesmo com esses ajustes, elas ainda precisam de crédito para atravessarem a crise”, afirma Gonzalez. “O acesso ao crédito é importante para que essas empresas consigam mitigar os efeitos da pandemia e não gerem uma sobrecarga de desempregos pelo país”.

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Segundo a pesquisa, a demanda potencial de crédito dividida por setores é maior para o comércio varejista, que foi brutalmente afetado pela crise, sobretudo, no mês de abril. Se ao todo, a demanda estimada seria da ordem de 472 bilhões de reais, o comércio varejista seria responsável por 172,6 bilhões de reais, ou 36,5% desse montante. A categoria denominada pelo estudo como outros setores — uma categoria composta por agropecuária, eletricidade e gás, água e esgoto, comércio atacadista, atividade imobiliária, dentre outros — aparece na segunda posição do ranking, com a necessidade de 81,4 bilhões de reais em crédito. Essas atividades são seguidas por Alimentação (39,4 bilhões de reais); Indústria da Transformação (27,5 bilhões de reais); Comércio e Reparação de Veículos (27 bilhões de reais); Atividades Administrativas (24,4 bilhões de reais) e Construção (23,5 bilhões de reais). Caberá ao governo tirar suas propostas de apoio do papel, tais como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), anunciado recentemente, para fazer com que o crédito chegue às empresas e, assim, evitar um sem-número de novos desalentados no país.

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