O sonho de criar uma startup com uma ideia revolucionária, vendê-la por milhões de dólares a uma grande companhia e depois se aposentar certamente é comum a muita gente que começa a empreender. Exceto pela parte da aposentadoria, foi isso que aconteceu com o economista israelense Uri Levine um dos criadores do Waze. Ele diz que busca sucessos maiores que o aplicativo comprado por 1,1 bilhão de dólares (3,45 bilhões de reais atualmente) pelo Google em 2013.
Levine, ao contrário dos outros co-fundadores, saiu da empresa após a sua venda. Tem participação em nove startups e dá palestras sobre empreendedorismo pelo mundo. Durante evento na capital paulista nesta terça, disse que o principal para quem quer seguir o mesmo caminho é procurar um problema para resolver, algo grandioso, que vá melhorar o mundo.
“A boa notícia é que há muitos problemas a serem resolvidos. A má, é que ainda há muitos”, disse durante entrevista após o evento. “O trânsito não está resolvido, os serviços médicos têm muitos problemas. Se você olhar para os dos Estados Unidos, por exemplo, o custo é cinco vezes maior do que na Alemanha. E não são cinco vezes melhores. São quase a mesma coisa, mas são simplesmente mais caros. Há muita ineficiência nisso”, explica.
Outro campo que vê como promissor é o da educação porque, segundo ele, não houve mudanças na forma de ensinar e aprender no último século, e o mundo mudou muito nesse tempo. “Nossos avós tinham um trabalho durante toda a vida deles, e nossos pais tinham uns cinco. Mas, olho para meus filhos: no último ano, eles tiveram cinco trabalhos”, compara. “Talvez nós tenhamos que aprender algo que é completamente diferente, ou adaptabilidade, ou novas habilidades, em vez de ficar fazendo sempre a mesma coisa”, diz.
Para escolher o problema, diz que é preciso identificar quais pessoas são afetadas por ele, e como elas percebem a questão. Aí então, gastar tempo procurando entendê-lo melhor. O Waze levou cerca de um ano até que os os mapas, feitos através das informações enviadas pelo GPS do celular dos usuários, ficassem bons, na sua avaliação.
Levine diz que as informações compartilhadas por usuários, que foram vitais para o Waze, são uma grande fonte de conhecimento para quem quer resolver um problema. “Esse modelo de contribuição colaborativa é a maneira mais rápida de conseguir informação que não está disponível. E as pessoas, definitivamente, estão ‘ok’ com a ideia de compartilhar”, disse.
Da sua trajetória, disse que aprendeu que é preciso estar focado no problema em vez da solução, o que julga difícil. E que os empreendedores devem se preparar para atravessar um “deserto” – época que ocorre após a excitação inicial com o projeto, em que parece que as coisas não progridem, mas na qual se deve continuar tentando, sem medo de errar.
Sobre a venda ao Google, diz que teve “sentimentos diversos”. E, apesar de recomendar que empreendedores comemorem conquistas, garante que não fez “nada de especial” após a transação, apenas teve a certeza de que poderia fazer algo maior. “[As minhas startups] são as coisas nas quais estou trabalhando atualmente. E continuo desenvolvendo porque tenho a mesma paixão que antes. Mas, agora estou ‘anabolizado’. Então, qualquer coisa que tentar fazer, será muito mais impactante”, disse.