Dono do China In Box e Gendai vai investir em foodtruck
Robinson Shiba, criador da rede China in Box, diz que é possível começar mesmo na crise, e que novos empreendedores têm pressa para ficar ricos
O paranaense Robinson Shiba, 50, era cirurgião dentista quando decidiu em 1992 se tornar empreendedor em um ramo bem diferente da sua formação, o de entrega de comida chinesa a domicílio.
O negócio era inédito no Brasil. E o país vivia tempos de incerteza política – o ex-presidente Fernando Collor havia sofrido um processo de impeachment – e de instabilidade econômica, com hiperinflação e medidas como congelamento da poupança. Mesmo assim, decidiu apostar no modelo que conheceu ao trabalhar como ajudante de cozinha nos Estados Unidos, após perder todo o dinheiro do seu intercâmbio em um assalto.
Hoje, sua empresa é dona das redes China in Box e Gendai (de comida japonesa) e tem 216 unidades pelo país. É a maior rede de franquias de comida oriental da América Latina, com faturamento de cerca de 450 milhões de reais 2016.
No livro Sonhos in Box (Buzz, 208 páginas), que será lançado nesta segunda-feira, Shiba conta sua trajetória. De seu escritório, em São Paulo, falou a VEJA sobre as lições que aprendeu e o que considera importante para quem pensa em montar o próprio negócio:
Quando o senhor começou seu negócio, em 1992, o país estava uma época de incertezas políticas e econômicas, como agora. A crise é um bom momento para empreender? É na época de crise que aparecem as oportunidades. Tudo ficou muito barato, os preços aluguéis caíram pela metade, os fornecedores parcelavam a perder de vista porque queriam fazer negócio. A crise fez com que coubesse dentro do nosso orçamento, que era extremamente limitado.
Apesar das oportunidades, o senhor não considerava que os riscos também eram maiores? A minha crença que meu negócio de entrega de comida chinesa a domicílio era inovador era tão grande que eu nem ponderava crise econômica, hiperinflação, ou volta da ditadura. A certeza e a crença de sucesso ficavam no limite da inconsequência mesmo, não conseguia enxergar qualquer problema que pudesse afetar o meu negócio.
O senhor tem um filho que também busca criar o próprio negócio. Se ele dissesse que quer começar hoje, o que lhe diria? Eu iria tentar obter dele essa crença que eu tive quando comecei. De que o negócio daria certo, o entusiasmo e as informações que eu fui buscar para comprovar que o meu negócio, a minha tese de empreendimento, tinha lógica. Porque você se torna convicto se busca informação. E não é informação de indicadores econômicos do IBGE, são indicadores práticos mesmo. Vai lá no campo de batalha e busca informação, aí vai conseguir se convencer. Daí você vende mais facilmente seu plano. Ele teria que vender esse plano para mim.
Na sua avaliação, quem tem buscado começar a empreender hoje em dia tem reunido informação suficiente? Não. Existem muitas informações que são coletadas apenas no Google. Aí não dá. O Google é para te direcionar, tem que ir in loco. Sempre dou como recomendação para os jovens que vão empreender no meu setor que façam pesquisa buscando a maior quantidade de informação. E, quando for possível, que trabalhe no segmento. Que sejam três, quatro, ou seis meses, mesmo como ajudante geral.
O senhor aprendeu mais sobre o negócio sendo ajudante de cozinha. Qual é o tipo de emprego necessário para conseguir informações em um ramo? É qualquer coisa. Porque você respira o ar do negócio, escuta as conversas de corredor, toma café, faz networking, sai para tomar uma cervejinha depois. E vai coletando informação, vai perguntando. Eu sou dentista, nunca fiz um curso de administração. Mas eu sento um fim de semana em um evento de tecnologia e acabo buscando informações: quem fornece, quem desenvolve, como faz para desenvolver, a quantidade mínima necessária de programadores. Você começa a se interessar. Outra coisa muito importante é a curiosidade. Você está lá sentando, pergunta como é esse segmento, como funciona, vai puxando conversa.
Há quem diga que muita gente tem planos de começar um negócio, mas não se mexe para conseguir algo. Pode-se dizer que quem empreende hoje tem preguiça? Total. Hoje é muito incrível: se tenho uma ideia inédita, pode ter certeza que, no mundo, mais umas cinco pessoas vão ter a mesma ideia. O que for menos preguiçoso é o que vai implantar primeiro. E aí, quando for ver, os outros estarão lamentando.
Isso aconteceu comigo. Quando eu participei da primeira feira de franquia, em 1994, apareceram, pelo menos, umas 5 pessoas que me disseram: “puxa vida!”. Quando elas estudavam nos EUA, consumiam muita comida chinesa e sempre tiveram ideia de montar um negócio similar aqui no Brasil. E nunca montaram, acabaram não desenvolvendo. O bom empreendedor é aquele que não é preguiçoso e vende a solução para o preguiçoso.
“Quando eu participei da primeira feira de franquia, apareceram, pelo menos, umas 5 pessoas que tinham a mesma ideia. Quem for menos preguiçoso é o que vai implantar primeiro”
É possível ter um trabalho em um ramo e começar um negócio em outro? Dá para ter essa duplicidade enquanto se está fazendo pesquisa e coletando informação. Depois de decidido, coletada a informação, adquirido o conhecimento e a convicção, aí é hora de transpirar. Arregaçar as mangas e implementar. Se não fizer, terá 5 ou 6 pessoas que farão.
Mesmo com convicção e informações, é preciso dinheiro para começar um negócio. Como você conseguiu na sua época? Vale a pena emprestar dinheiro hoje? Quando comecei, já tinha três consultórios. Hoje, não buscaria financiamento, porque a situação é muito instável. O viés é de taxa de juros decrescente, por exemplo, o que é um cenário favorável. Mas não se sabe se na semana que vem acontece alguma coisa e a taxa volta a subir.
Aí você tem dois riscos: fora o principal, de estar montando o primeiro negócio – e que já é grande – é de estar montando o primeiro negócio já com uma dívida assumida. Eu buscaria levantar o capital junto a parentes, amigos, pais. Se eu não obtivesse 100% dele, buscaria um sócio que compartilhasse dos mesmos princípios, valores, e tentaria compor uma sociedade, mas não fazer uma dívida.
Além de preguiça, o que mais te chama atenção em quem está começando agora? Hoje, o jovem empreendedor acha que vai prosperar muito rápido, que vai empreender e rapidamente irá ficar milionário. É incrível isso. Quando eu digo que querem rápido, são 2 ou 3 anos. Dá mesma maneira que ele sonha que irá prosperar muito rápido, engraçado é que nesse mesmo período que ela fecha as portas.
Muitas vezes, sou convidado a dar palestra e tento jogar um balde de água fria nos meninos: “Pessoal, o importante é ter saúde, porque nossa jornada é longa”. Tem que ter muita paciência, resiliência. Gente como Mark Zuckerberg são uns cinco.
Quanto tempo o senhor demorou para juntar o primeiro milhão? Dez anos. Fui comprar minha casa própria, meu apartamento, no meu oitavo ano de negócio. Antes, morava de aluguel, porque sempre reinvesti no negócio, em equipe. Acho que leva no mínimo, dez anos, para qualquer coisa. E isso porque eu posso dizer que prosperei. Juntar o primeiro milhão é uma coisa para poucos, infelizmente, aqui no Brasil.
Uma alternativa muito popular nos últimos anos de quem quis empreender foram os foodtrucks. Como viu essa onda no mesmo setor que o do seu negócio? No começo eu fiquei bastante chateado, porque estava aparecendo dentro do meu segmento um concorrente que não cumpria as mesmas regras que nós, que tínhamos um endereço físico, um CNPJ, regras a cumprir, gerávamos empregos formais. Depois vi que, rapidamente, a prefeitura entrou para regulamentar o setor. Tanto que, agora, os foodtrucks bem-sucedidos têm endereço, ficam dentro de um foodpark. Tem vários que não deram certo, infelizmente.
“Vou utilizar exatamente essa mesma estratégia dos foodtrucks, tanto para o China in Box quanto para o Gendai. É um investimento para o primeiro semestre de 2018”
Por que diz infelizmente, se são concorrentes dos seus negócios? Todos nós que empreendemos somos concorrentes, mas um torce pelo outro. Porque empreendedor gera emprego. Se alguém montar um foodtruck, vai ganhar dinheiro para comprar camisa, pagar escola. E eventualmente, quando estiver em casa, cansado de operar o truck dele, pode pedir um yakissoba do China in Box.
O que o Brasil precisa era de emprego. Quando o país chegou no auge, que para mim foi entre 2011 e 2013, eu não conseguia atender à demanda. E podia aparecer mais não sei quantos concorrentes que eu não conseguia atender todo mundo que queria comer.
O senhor pretende usar esse modelo de negócio nas suas empresas? Vou utilizar exatamente essa mesma estratégia, tanto para o China in Box quanto para o Gendai. É um investimento para o primeiro semestre de 2018. Em vez eu montar uma loja física, fazer o investimento de reformar uma casa, um investimento alto, eu monto um foodtruck numa cidade em que eu preciso testar o mercado para saber se vai prosperar ou não. Eu coloco lá num espaço, num parque e, se começar a ter aderência, eu monto a loja. Daí eu pego esse foodtruck e vou para outra cidade.
Vocês sentiram queda na demanda com a crise? Vê crescimento para esse ano? Sentimos, uma queda como qualquer outro setor. Menos que construção civil, por exemplo, porque esse setor foi muito afetado. Agora, dentro do varejo, alimentação fora do lar se tornou luxo. Graças a Deus, a gente ainda vende, porque o meu tíquete médio, tanto no Gendai como no China in Box, é um tíquete menor, cerca de 30 reais. Tem gente que deixou de ir num restaurante mais caro e começou a comer comigo. Mas eu tive perda sim, de volume de venda. O crescimento de vendas neste ano, se houver, vai ser o da inflação, um faturamento de mais ou menos 450 milhões de reais.