A Eletrobras vendeu em leilão nesta quinta-feira suas três distribuidoras de energia no Norte do país, recebendo propostas do grupo Energisa pelas empresas que atuam no Acre e em Rondônia e de um consórcio entre Oliveira Energia e ATEM pela elétrica de Roraima.
Não houve concorrência. As compradoras eram foram as únicas empresas interessadas no negócio.
Como resultado, as tarifas de luz da Eletroacre cairão em 3,7% após a entrada do novo controlador, enquanto na Ceron, de Rondônia, haverá redução de 1,75%.
O leilão foi considerado amplamente favorável por representantes do governo, uma vez que as distribuidoras são fortemente deficitárias e apresentam alguns dos piores indicadores de qualidade do setor.
A venda das distribuidoras, empresas que têm levado a perdas financeiras pela Eletrobras nos últimos anos, ocorreu por um valor simbólico condicionado a aportes, entre outros fatores, apesar da forte pressão de políticos contrários ao negócio. A operação encontrou compradores mesmo sem a aprovação de um projeto de lei no Congresso que ajudaria na atração de mais investidores para o leilão.
“Essas empresas acumularam prejuízos de mais de 20 bilhões de reais nesses últimos vinte anos. As três somam um passivo de 2,8 bilhões para a Eletrobras, que passará a ser um passivo das empresas adquirentes”, disse o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira.
“O leilão foi o sucesso do sucesso. Nosso desafio agora é acompanhar os novos controladores, para garantir a saúde da concessão e a qualidade do serviço”, disse o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone.
A Energisa, maior vencedora da concorrência, já controla nove concessões de distribuição, incluindo no Mato Grosso, divisa com Rondônia, o que deve garantir sinergias na operação da Ceron. “Pretendemos também buscar o máximo de sinergia da Ceron com o Acre. Nossa ideia era fazer o ‘combo Noroeste'”, afirmou o presidente do grupo, Ricardo Botelho.
Já a Oliveira Energia, que ficou com a Boa Vista Energia, de Roraima, atua com fornecimento via termelétricas no Estado e no Amazonas. Ela terá como sócia na empreitada a ATEM, uma distribuidora de petróleo local.
A Oliveira e a ATEM contaram com assessoria do ex-presidente de Furnas, subsidiária da Eletrobras, Flávio Decat, que também já foi executivo da Cemig e do Grupo Rede.
“Nós estamos em Boa Vista há seis anos, nossa empresa tem 40 anos de vida, 25 no setor de energia. Achamos que é um segmento que dá rentabilidade. Vamos trabalhar muito, contratar pessoas especializadas”, disse a jornalistas o presidente da Oliveira, Orsine Oliveira.
Segundo o BNDES, organizador do leilão, as distribuidoras receberão dos novos controladores um aporte de capital total de 688 milhões de reais, como parte das regras da privatização.
Posteriormente, as empresas deverão receber investimentos totais na rede de cerca de 1,5 bilhão de reais nos próximos cinco anos.
Botelho, da Energisa, disse que a companhia comentará suas estratégias para equacionar esses investimentos em uma teleconferência na sexta-feira.
Em fato relevante, afirmou que “acredita que seu histórico bem-sucedido de transformação operacional e financeira será essencial para melhorar os indicadores de qualidade, perdas, inadimplência e também o equilíbrio econômico-financeiro das Distribuidoras, trazendo benefícios para seus consumidores”.
Já Oliveira disse que seu grupo “tem caixa” para cumprir com os aportes necessários.
Questionado sobre a vitória de um grupo sem experiência de distribuição de energia no leilão, o diretor-geral da Aneel, Pepitone, disse que a Oliveira Energia está comprando toda a estrutura da concessão de Roraima no leilão, inclusive funcionários.
Ele também afirmou que a qualificação da empresa será averiguada pelo regulador no momento de aprovar a transferência da concessão.
“Vamos seguir o que está na regulamentação e ver se, item a item, atende a contento”, disse.
Próximas
A Eletrobras ainda pretende vender suas distribuidoras no Amazonas e em Alagoas, sendo que o leilão da primeira está agendado para 26 de setembro, enquanto a elétrica alagoana teve a negociação travada por uma decisão liminar do ministro Ricardo Lewandowsky, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Questionado por jornalistas, o presidente da Energisa, Ricardo Botelho, disse que o grupo descarta disputar a empresa do Amazonas, mas poderá avaliar a do Alagoas. Ele disse, no entanto, que não faria maiores comentários devido à ação judicial contra a privatização.
Já a Oliveira Energia não descarta avaliar também a Amazonas Energia, segundo o presidente do grupo.
“Estamos sempre esperando na parada de ônibus. Se um ônibus passa”, brincou o executivo, embora ressaltando que não há uma decisão sobre o investimento.