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Elon Musk: um gênio que se tornou o ícone do negacionismo da Covid-19

O empresário se transformou num norte para líderes populistas que menosprezam os riscos do novo coronavírus

Por Felipe Mendes Atualizado em 18 Maio 2020, 11h15 - Publicado em 18 Maio 2020, 10h59
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  • Não são poucos os que consideram Elon Musk um dos grandes talentos de sua geração. O empresário e filantropo de 48 anos, nascido na África do Sul, vê constantemente o seu nome ser associado ao de gênios incontestes como Thomas Edison, Henry Ford, Howard Hughes e Steve Jobs. A mente inventiva do mito por trás da criação de projetos que mudaram — e mudam — hábitos de consumo como PayPal, Tesla, SpaceX e SolarCity, no entanto, contrasta com sua faceta mais polêmica. Conhecido por não ter papas na língua, Musk tem sido um dos principais negacionistas dos efeitos do novo coronavírus, posicionando-se, desta vez, ao lado de figuras contestadas pela comunidade científica como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Nicolás Maduro. Neste domingo 17, o empresário usou sua conta no Twitter, onde carrega uma legião de 34 milhões de seguidores, para fazer um breve comentário: “Escolha a pílula vermelha”. A alusão ao filme Matrix não é por acaso. Ele quer dizer, com isso, que as pessoas devem encarar a complexa — e, por vezes, polêmica — verdade por detrás de um mundo de aparências. Em outras palavras, ele deseja que a população aceite a sua controversa opinião sobre a doença. A publicação foi endossada por Melania Trump, a primeira-dama dos EUA, e diversos apoiadores do governo americano.

    A lista de polêmicas do empresário acerca da enfermidade, que já ocasionou mais de 315 mil mortes no mundo, parece não ter fim. Em 6 de março, o visionário Musk tempestuou ao declarar no Twitter que o pânico causado pelo coronavírus é “estúpido”. Pouco depois, ele tentou se redimir. Entre o fim de março e o começo de abril, prometeu doar milhares de ventiladores pulmonares para diversos estados do território americano. Cumpriu com a palavra em partes. Cerca de 400 equipamentos, lacrados com o logo da Tesla, foram entregues ao estado de Nova York. Os aplausos que vinha recebendo pela atitude, no entanto, sucumbiram ao se descobrir que os respiradores eram, na verdade, para o tratamento de apneia do sono, e que não teriam eficácia para ajudar pacientes com quadros graves da Covid-19. Até mesmo o governador da Califórnia, Gavin Newsom, que elogiou a atitude do filantropo em 24 de março, voltou atrás. Em 15 de abril, um porta-voz do governo do estado desmentiu ter recebido qualquer ajuda por parte do empresário. “Estamos nos comunicando todos os dias com hospitais do estado sobre o fornecimento de ventiladores e, até o momento, não ouvimos falar de nenhum sistema hospitalar que tenha recebido algum ventilador diretamente da Tesla ou de Musk”, disse um porta-voz do Gabinete de Serviços de Emergência do governador da Califórnia.

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    Mesmo tendo sido arduamente criticado à época por sua posição, num momento em que a pandemia ainda começava a ganhar escala nos Estados Unidos, ele voltou a gerar polêmica. Recentemente, Musk desafiou as autoridades do estado da Califórnia ao afirmar que iria reabrir, ainda que sem autorização, a fábrica da montadora Tesla localizada na cidade de Fremont, na Califórnia, obrigando trabalhadores que estavam em licença, por conta das medidas de isolamento social, a voltarem ao trabalho. Depois de ameaçar deixar a Califórnia e levar suas fábricas a estados como Texas ou Nevada, a montadora recebeu um e-mail do governo do estado com a autorização para o retorno das atividades de algumas de suas operações. Mas Musk, não satisfeito, decidiu retomar as atividades de fábricas que não constavam na lista de permissões, como a do condado de Alameda. A sensação de estar cometendo um delito fez com que o empresário fosse à rede social em 11 de maio para fazer um pedido, no mínimo, insólito: “A Tesla está retomando sua produção contra as regras do condado de Alameda. Estarei na linha de frente com todos os trabalhadores. Peço que se alguém tiver de ser preso, que seja eu”, disse Musk. Lembra-se que a Califórnia, estado mais populoso dos Estados Unidos, decretou isolamento obrigatório em 20 de março. Desde então, a população só pode sair de casa para comprar comida, remédios e fazer exercício, respeitando a distância mínima de quase dois metros entre as pessoas.

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    O bilionário dono da Tesla também faz parte de um grupo perigoso de defensores da hidroxicloroquina, medicamento usado para o tratamento da malária, para mitigar os impactos do coronavírus. No início de março, Musk usou sua rede social para relembrar que, em 2000, foi diagnosticado com a malária e, depois de complicações respiratórias, foi salvo pelo fármaco. “Teria morrido se não fosse pela cloroquina. Não significa que funcionará contra o Covid-19, mas é melhor do que nada”, disse, em uma publicação no Twitter. A adoção da droga também é defendida por Donald Trump, Jair Bolsonaro e Nicolás Maduro. A comunidade científica alerta, no entanto, que não há evidências que comprovem a eficácia do fármaco para o tratamento da Covid-19. O comportamento indócil do empresário não é de hoje. Musk já fumou maconha em um programa televisivo, disse, em dado momento, que as ações da Tesla estariam valorizadas demais e causou a fúria dos investidores ao usar o Twitter para anunciar que iria fechar o capital da Tesla quando os papéis da empresa estivessem cotados a 420 dólares cada — o que fez as ações dispararem e, posteriormente, ele ser autuado pela comissão de valores mobiliários americana, a SEC, por manipulação de mercado. Recentemente, nomeou seu filho recém-nascido de X Æ A-12. Polêmicas não faltam para o homem que tem um patrimônio colossal estimado em 36,1 bilhões de dólares e que pretende transformar o emprego da energia renovável e as viagens à lua e à Marte em algo corriqueiro para os seres humanos.

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