Bons ventos vindos do mercado formal traduzem a esperança do ministro Paulo Guedes com a recuperação da economia tão assolada pelos efeitos da pandemia. Pelo quinto mês consecutivo, o Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged) registrou saldo positivo, ou seja, foram abertas mais vagas que fechadas. Em novembro, a subtração entre admissões e desligamentos registrou saldo de 414.556 vagas, maior que no mês anterior, em que o Caged já havia registrado seu recorde da série histórica. No acumulado do ano, o saldo passou a ser positivo de 227 mil vagas, pela primeira vez desde abril. Os números foram divulgados nesta quarta-feira, 23, pelo Ministério da Economia.
Cabe ressaltar que o Caged capta apenas o comportamento do mercado formal, ou seja, números de carteiras assinadas que são informadas pelos empregados ao Ministério da Economia, e não os dados de desemprego do país, compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Nessa quarta, o IBGE divulgou que o desemprego no país subiu e atingiu 14 milhões de pessoas, aumento de 38,6% desde maio (10 milhões), quando começou a série da Pnad Covid. Com isso, a taxa de desocupação em novembro ficou em 14,2%. “Estamos preocupados sim com os invisíveis e vamos a frente cuidar disso. será nosso próximo passo. Mas a recuperação do mercado formal é muito importante”.
Por mais mais que soe estranho, o descompasso entre a taxa de desocupação e o aumento de vagas formais estão diretamente ligada a recuperação da economia e, por isso, era esperada. Com atividades voltando a funcionar e os indicativos de melhora, mais gente passou a procurar emprego. A taxa de desocupação do IBGE considera desempregados somente aqueles que ativamente procuram por uma vaga. A melhora do mercado formal é importante, mas é difícil que haja absorção de toda a força de trabalho, que também passa por trabalhadores informais. Segundo o ministro, a vacinação da população, prevista para 2021, é um dos pontos fundamentais para o reaquecimento da economia e recuperação das atividades.
O ministro da Economia ressaltou a resiliência do mercado formal, muito em parte pela medida do programa de proteção ao emprego, o BEm, que permitiu suspensão e redução de jornadas de trabalho. Além dos empregos preservados, o mercado voltou a abrir vagas. Guedes comparou a crise do novo coronavírus a outro momento importante da empregabilidade no país, a crise de 2015 e 2016. “Por problemas internos e de condução de política econômica, o Brasil perdeu 1,5 milhão de postos formais em 2015 e 1,3 milhão de postos em 2016. Agora, estamos criando empregos em um período de pandemia, É algo muito importante e que mostra a recuperação da economia. Eu falei que o Brasil iria surpreender o mundo”.
Retomada
Em abril, o país amargou a perda de 948 mil de postos de trabalho, diante da paralisação dos negócios pelas corretas medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos para desacelerar o avanço da doença. Em maio, o mercado de trabalho assistiu à ceifa de 366.200 vagas. Foram os dois meses de maior desafio. Depois, houve recuperação e, mês a mês, as vagas formais têm se multiplicado.
A partir de julho, o país começou a criar vagas formais de trabalho. Naquele mês, entre pessoas que amargaram demissões e foram contratadas, o saldo ficou em 137.695. Os dados de agosto mostram que o mercado formal criou 242.714 novos postos de trabalho. Em setembro, foram 314.903 vagas criadas. Já em outubro, o crescimento foi de 389 mil vagas.
Em novembro, o saldo positivo foi causado, principalmente, pela queda no ritmo de desligamentos, que foi 5% menor que no mês anterior e amenizou a diminuição das contratações (-2%). As contratações foram maiores nos setores de serviço e do comércio, que, tradicionalmente apresentam grande crescimento nesse período devido ao aumento de vagas temporárias para suprir as demandas de fim de ano. Dos postos gerados para essas categorias em novembro, cerca de 20% são contratos temporários. Cabe ressaltar, porém, que essas duas atividades foram justamente as mais afetadas pelas medidas de distanciamento social para a redução de contágio da Covid-19 e, no acumulado do ano, fecharam mais vagas do que abriram.
Mesmo que o movimento natural de fechamento de vagas no fim do ano aconteça, o comportamento do mercado formal é realmente animador e auspicioso, como gosta de definir Bruno Bianco, Secretário de Previdência e Trabalho. A preservação da mão de obra formal é importante para a retomada do ritmo de crescimento, e, segundo Guedes, precisa de um auxílio: a imunização em massa. Assim, segundo ele, será possível uma “retorno seguro ao trabalho”, ou seja, com menos riscos de contaminação e reativação das atividades que ainda caminham de forma lenta por causa da pandemia.