Empresa cria cursinho para ajudar funcionários a entrar na faculdade
O projeto 'Vestibulever', criado pela empresa de Customer Experience (CX) Foundever tem aulas ao vivo e online
A empresa de Customer Experience (CX) Foundever criou um curso pré-vestibular para ajudar funcionários a entrar na faculdade. O projeto “Vestibulever” já auxiliou 10 colaboradores com a aprovação em vestibulares, está em sua segunda edição e mira inclusão de refugiados, jovens e outros grupos que querem conquistar vaga em universidades. Reforçando o compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) de assegurar a educação inclusiva, a empresa está investindo em aulas para seus colaboradores com iniciativas próprias, oferecendo a oportunidade de conciliar estudo e trabalho.
“Nós somos uma empresa que tem muito acesso à comunidade carente. Nesse sentido, a gente proporciona vagas de primeiro emprego para pessoas que são de comunidades carentes e que acabam tendo poucos recursos para investir na sua educação”, diz a diretora de Recursos Humanos da Foundever Adriana Wells, em entrevista para a Veja Negócios. Inspirada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a companhia teve a ideia de preparar aulas pré-vestibular como oportunidade aos colaboradores que concluíram o ensino médio, mas que não tinham perspectivas de acesso ao ensino superior.
Facilitado pela área exclusiva de ESG, que coloca as questões de conscientização e contribuição social em evidência, o projeto nomeado de Vestibulever surgiu para que os trabalhadores pudessem ter mais chances de passar em uma faculdade federal ou obter bolsas de estudo em universidades privadas. Para realizá-lo, a Foundever passou a investir em professores capacitados e especializados em dar “aulas de cursinho”. Apesar de possuírem collabs e parceiros que auxiliam na organização do programa, a empresa arca com 100% dos custos para realizá-lo.
Neste ano, com as aulas que tiveram início já no mês de julho, o Vestibulever registrou um número maior de interessados do que em 2023, sendo 47 colaboradores inscritos e 30 selecionados. Ele contempla uma agenda de 14 semanas de aulas, tendo seu encerramento em 30 de outubro. A carga horária exige três horas de dedicação aos estudos na plataforma, com três dias de aula por semana. Os critérios de seleção foram a análise de boa reputação no ambiente de trabalho e um teste de nível para checar se os participantes estavam aptos à realização da prova e o ingresso no ensino superior.
O CEO da Foundever no Brasil, Laurent Delache, explica que a plataforma ainda oferece duas modalidades de ensino: aulas ao vivo com professores e um curso 100% EAD, com videoaulas gravadas, permitindo que os alunos organizem seus estudos de forma flexível. Além disso, o sistema permite que os alunos do EAD possam participar pontualmente e tirar suas dúvidas. “A ideia é que os participantes possam entender que sua rede de apoio, além de sua família, vem também do seu ambiente de trabalho e que sua empresa torce para que o profissional consiga alcançar seus objetivos de carreira”, ressalta.
Oportunidades para todos
Aziz Aboujamal, 38, é um dos colaboradores migrantes que a empresa contrata. Ele veio do Marrocos em 2014, é formado em biotecnologia e, por meio do projeto, quer cursar direito, relações internacionais ou comércio exterior. “A minha experiência tem sido muito positiva. Eu estou olhando algumas aulas e vejo que os estudos serão de grande ajuda para se preparar e conquistar uma boa nota no ENEM”, conta.
Nesta edição do programa há alguns colaboradores refugiados, contemplando os quase 700 admitidos na companhia em situação de refúgio. No ano passado, o programa recebeu um colaborador cubano que atuava como supervisor de operações na empresa. Ele enfrentou desafios na redação do ENEM, devido ao contexto do tema e suas diferenças culturais. Diante disso, desta vez, a companhia se preparou e criou um método específico para estrangeiros.
“A gente precisou investir muito em língua portuguesa, a gente precisou investir muito no pilar da redação, porque isso com certeza é um gap. Na verdade, é um gap já dos brasileiros, então imagina para os refugiados”, explicou a diretora de RH. Adriana ainda ressalta os valores culturais e afetivos desenvolvidos pelo programa, que beneficia ambos os lados.
Cenário brasileiro
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou os resultados do Enem 2023. Os dados notórios mostram que foram 60 candidatos no Brasil que conquistaram a nota máxima (mil pontos) na redação, que teve como tema os “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Desses, apenas quatro pertencem à escola pública.
O CEO Laurent Delache afirma que, mesmo sendo uma empresa, a Foundever enfrenta o desafio de melhorar o ensino dos brasileiros ao notar esses números relacionados à educação. “O nosso programa de aceleração para o vestibular já agrega muito para os colaboradores e reforça o seu desenvolvimento intelectual. Ele vai além de apenas prestar uma prova para ingressar na faculdade, mas também aprimora mais conhecimentos básicos”.
Além dos aspectos educacionais e sociais, Adriana acredita que o Vestibulever traz impactos positivos na economia como um todo. “Investindo em educação, a gente investe em empregabilidade, em estabilidade e até em condições financeiras. Eu acho que a base de tudo é a educação”. Ela ainda reforça que provocar a educação faz com que os colaboradores que passam por esse projeto se tornem mais críticos e tenham mais clareza dos próximos passos que podem seguir em suas carreiras. “Quando a gente traz essa reflexão e mostra para eles que é possível, não se afeta somente o valor que eles têm de mercado, mas também afeta positivamente a sua autoestima”, afirma.
Após a conclusão das aulas, os estudantes também passam por uma sessão de formatura solene a fim de prestigiá-los e reconhecer sua dedicação. “Nós tentamos trazer o brilho e o glamour que muitas vezes eles não tiveram a oportunidade de ter em sua trajetória”, compartilha Andriana Wells.