Enquanto setor de luxo encolhe, grifes internacionais crescem em outlets
As italianas Salvatore Ferragamo e a Gucci estão inaugurando suas primeiras unidades de desconto na América do Sul, em São Paulo
Em momento em que as vendas de vestuário de luxo caíram 13% nos últimos dois anos, duas grandes grifes italianas – a Salvatore Ferragamo e a Gucci – estão inaugurando suas primeiras unidades de desconto na América do Sul. A expansão do Catarina Fashion Outlet, projeto da JHSF, dona do shopping Cidade Jardim, atraiu as duas gigantes, que venderão no empreendimento produtos com redução de 30% e 70% no preço. “As marcas têm hoje necessidade de escoar mercadorias”, diz Robert Bruce Harley, presidente da JHSF Malls.
A expansão do Catarina Fashion Outlet, localizado em São Roque, a cerca de 40 quilômetros da capital paulista, vai incluir a abertura de 29 novas lojas, que totalizam 5,5 mil metros quadrados de área. A Salvatore Ferragamo foi aberta há duas semanas, enquanto a Gucci será inaugurada nos próximos dias. Entre as marcas que chegarão ao empreendimento estão Tommy Hilfiger, Pampili, Superga, Animale e Farm.
Ao contrário de outros outlets, o Catarina não deve construir novas unidades, pelo menos por enquanto. O objetivo, diz o executivo, é continuar a expansão da unidade já existente, já que a empresa acredita que o público com renda para gastar em marcas de classe A se concentra ainda em São Paulo.
“Embora tenhamos um mix variado, 40% das nossas vendas vêm das marcas de luxo. E 55% do nosso público vem de São Paulo”, explica. Para convencer os potenciais clientes a pegar estrada até São Roque, Harley diz que o empreendimento investe em unidades exclusivas para outlets, como Montblanc, Rimowa, Michael Kors e Dolce Gabbana.
Em geral blindado a crises, o mercado de luxo no Brasil, no entanto, não tem passado ileso às dificuldades econômicas. Segundo a consultoria Euromonitor, a venda de roupas e calçados de grifes famosas foi de R$ 4,1 bilhões no ano passado, depois de atingir o pico de R$ 4,7 bilhões em 2015. Em igual período, o mercado de luxo como um todo sofreu ainda mais: após o segmento chegar ao auge de R$ 28,8 bilhões, em 2015, apresentou resultado de R$ 22,5 bilhões em 2017.
As dificuldades dos últimos anos fizeram algumas marcas desistirem do país – entre elas a Kate Spade, a Ladurée e a Longchamp. Outras, no entanto, decidiram voltar a apostar no mercado. A rede Iguatemi, por exemplo, tem inaugurações programadas para os próximos meses de unidades da Tiffany’s, da Rolex e da Villebrequin, que voltará ao País após dois anos de ausência.
Concorrência maior
De acordo com Jean Rebetez, consultor especializado em moda e sócio-diretor da GS&Consult, o setor tem novos desafios. “Hoje, estilo não é definido só pela roupa, mas por outros fatores, como uso de tecnologia e viagens. Então, a disputa vai além da concorrência direta.”
Para Rebetez, não é um contrassenso ter marcas de luxo em outlets. Isso porque, dependendo da grife, além de vender sobras de coleção, há também uma produção exclusiva para as unidades de desconto. “Essas empresas têm uma margem fenomenal. Por isso, mesmo vendendo por menos, elas ainda ganham muito. E, nos outlets, conseguem atingir um público que não poderia pagar o preço cheio.”