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Estados Unidos deixam claro sua estratégia de derreter o dólar

A fala do presidente do FED sobre sobre como enfrentar a crise de desemprego nos EUA mostrou a necessidade de desvalorizar a moeda americana

Por Luisa Purchio Atualizado em 11 jun 2020, 18h10 - Publicado em 11 jun 2020, 10h16

O anúncio de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (FED), o BC americano, na quarta-feira, 10, sobre os próximos passos a serem dados pelo governo de Donald Trump para incentivar a economia não foi tão animador quanto o mercado esperava. Contudo, está no compasso do atual cenário de crise econômica no qual os Estados Unidos está mergulhado e do qual não conseguirá emergir nos próximos meses. A divulgação pelo presidente de que a taxa básica dos juros ficará entre 0 a 0,25% até o final de 2022 desapontou ao mostrar que os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) não estão correspondendo conforme a expectativa ao aumento da taxa de juros. O entendimento é de que o FED prevê um longo período de letargia econômica. As taxas de juros próximas de zero buscam estimular a economia, por meio da oxigenação do caixa das empresas e do mercado financeiro, mas em detrimento da força do dólar. Em nada difere da estratégia para sair da crise de 2008, que levou o país ao menor índice de desemprego da história e forte crescimento econômico.

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Como consequência da decisão, o dólar se desvalorizou mais em relação às moedas de todo o mundo, confirmando a tendência dos últimos meses de seu derretimento. O DXY, a cesta das seis moedas mais fortes do mundo – cerca de 50% em euro e o restante em iene japonês, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço – sofreu forte queda após a apresentação e estava em -0,26%, em 96.07 pontos, pouco antes das 19h no horário de Brasília. Já na manhã da quinta-feira 11, por volta das 9h, ele começou o dia com leve alta de 0,40%, em 96.34 pontos. O índice é um bom balizador sobre a força do dólar – criado em 1973 pelo Federal Reserve, apresenta uma média ponderada sobre o comércio da moeda americana em relação às principais moedas globais. Ou seja: sua queda significa que o dólar perdeu força em relação à média das seis moedas mais fortes da cesta. Ontem o dólar também teve forte queda em relação ao Euro. “Os mercados de moeda voltaram a vender fortemente dólares, à medida em que a rodada de desvalorização continua a todo vapor. A venda de dólares não deixou de acontecer em qualquer pregão desta semana e a redistribuição desse capital em todo o mundo sugere que qualquer posição contra a subida do mercado de ações terá vida curta”, afirma Jeffrey Halley, analista de moedas da consultoria Oanda.

Na manhã da quinta-feira 11, a tendência de derrubada continua, em -0,32%, para US$ 1,1339, às 9h20 no horário de Brasília. Já frente aos emergentes, o desempenho foi variado, mas a moeda americana também sofreu leve desvalorização ontem. Em relação ao real, o dólar fechou em alta de 0,97% na quarta-feira 10, a 4,94 reais, mas devido à fatores locais, como a diminuição do apetite ao risco no pré-feriado brasileiro de Corpus Christi de hoje. “O mercado esperava um aumento da taxa de juros já a partir do segundo trimestre de 2022 e isso acabou derrubando a cotação”, diz Victor Beyruti, economista da Guide.

Apesar de Powell manter em seu discurso o tom de que o caminho da crise nos EUA será muito longo, a desvalorização do dólar em relação a sua fala apenas não foi maior porque ele não anunciou o estabelecimento de uma meta para taxas ao longo da curva de juros, o que era aguardado pelo mercado. “Esse é um projeto que ele está pensando em implementar, mas muita gente imaginava que essas conversas estavam mais avançadas e que um controle da curva de juros já seria anunciado”, diz Beyruti.

Outro ponto sensível no discurso foi em relação à incerteza sobre a recuperação do mercado de trabalho nos Estados Unidos. Ele fez questão de ressaltar que “pode levar anos para as pessoas acharem empregos”, principalmente se tiverem de sair de seus ramos de atuação por falta de vagas. Agora o mercado ficará na expectativa dos próximos indicadores do mercado de trabalho e os novos pacotes de estímulo fiscal, discutidos pelo governo e o Congresso. A estrada para recuperar a economia americana é longa e Powell enfatizou que serão utilizadas “todas as nossas ferramentas” para isso. Em um país robusto como os Estados Unidos, resta saber a extensão desse caminho e torcer para que o governo Trump não implemente medidas predatórias ao mercado global para tirar o seu país da crise.

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