O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, já se aproxima do início do ciclo de corte de juros no país, diante da evolução de dados do mercado de trabalho e da inflação. Na visão de interlocutores de mercado, a dúvida será agora em relação a quantos cortes serão realizados, considerando as três reuniões que a autoridade monetária americana tem até o fim de 2024.
Para Helena Veronese, economista-chefe B.Side Investimentos, Powell demonstrou “mais confiança” no processo de desinflação, com sinalização “bastante enfática” para cortes de juros (“dovish”, no jargão do mercado) como próximo passo. “A não ser que os indicadores fujam muito da tendência apresentada nos últimos meses, entendemos que o Fed vá, sim, iniciar o processo de corte de juros no seu próximo encontro, agendado para o dia 18 de setembro”, diz a economista.
Durante a coletiva de imprensa realizada hoje após a divulgação da decisão do Fed, que manteve os juros americanos inalterados pela oitava vez consecutiva, Powell endossou que “o trabalho não está feito” e que observar a evolução dos dados é relevante para as próximas decisões. “Mas o ‘timing’ está se aproximando e uma redução poderá estar na mesa no encontro de setembro, se os dados evoluírem para isso”, disse.
A postura adotada pelo dirigente do Fed foi bem recebida pelos mercados globais, com um movimento de alta de bolsas e queda do dólar e dos contratos de juros futuros logo na sequência da coletiva de imprensa, observa Guilherme Jung, economista da Alta Vista Research. Na visão da casa, o ciclo de flexibilização monetária nos Estados Unidos será feito por meio de cortes intermitentes de juros, ou seja, um corte de 25 pontos-base na próxima reunião, de setembro, uma pausa em novembro e um novo corte na mesma magnitude em dezembro.
“[Cortes de juros intercalados] é uma possibilidade, visto que, no fim do ciclo de elevação de juros, o Fed fez justamente isso: subiu os juros, deu uma pausa e subiu novamente”, afirma o sócio da GTF Capital, Felipe Corleta.
O primeiro corte da taxa de juros em setembro também já está precificado no mercado de derivativos. Segundo dados da ferramenta CME FedWatch, que avalia dados implícitos nos preços futuros dos juros americanos, a probabilidade de uma redução de 25 pontos-base em setembro é de 83,7%; há cerca de um mês, essa probabilidade era de 57,9%.