Fintechs querem ganhar jovens e desbancarizados com dinheiro digital
Empresas miram 60 milhões de pessoas que não têm conta em banco e precisam fazer transferências, pagar boletos e realizar compras
Fintechs e varejistas querem mudar a forma como o consumidor lida com dinheiro. A ideia é convencer as pessoas a utilizar cada vez menos dinheiro de papel e cartões para pagar contas. No lugar desses meios de pagamento, as transações serão efetuadas com créditos armazenados na carteira digital, que pode ser acessada do celular em qualquer horário e lugar.
Esse movimento atende principalmente ao público desbancarizado, cerca de 60 milhões de pessoas que não têm conta bancária e por isso não têm cartões e hoje enfrentam dificuldades para fazer pagamentos, seja em lojas físicas ou pela internet.
Uma dessas fintechs é a RecargaPay, carteira digital com 10 milhões de downloads que oferece serviços de recarga de celular, de cartão de transporte, pagamento de contas, transferência de valores entre usuário e compra pós-paga. A empresa acaba de lançar um cartão pré-pago com a bandeira Mastercard.
O diretor de marketing da RecargaPay, Renato Camargo, diz que o cartão serve como mecanismo de inclusão financeira para quem é desbancarizado. “Essa pessoa era muito dependente do dinheiro físico. O acesso a um cartão cria empoderamento, permite que ela possa fazer compras em sites. Pode parecer banal para quem sempre teve esse acesso.”
Para facilitar a vida desse público, a Casas Bahia vai oferecer carnê digital e também uma carteira digital para seus clientes. “Identificamos um nível de atendimento financeiro muito baixo entre esses clientes. Ou ele é desbancarizado ou sub-bancarizado, não é atendido como deveria”, afirma Marcelo Nogueira, diretor de serviços financeiros da Via Varejo.
Segundo ele, a carteira digital dá ao cliente a possibilidade de reduzir a dependência do uso do dinheiro físico. “Hoje, ele precisa se deslocar fisicamente com dinheiro para fazer seus pagamentos. Com a carteira digital, poderá ter comodidade para fazer pagamentos remotamente de maneira online.”
O plano é liberar um cartão de débito para o cliente das Casas Bahia pagar suas compras em qualquer lugar. “Ele vai na loja, baixa o aplicativo, valida, coloca crédito e passa a usar. Pode comprar crédito, pagar conta, carregar bilhete, transferir para outra pessoa”, diz Nogueira.
No caso dos jovens, um dos atrativos é a facilidade da utilização desse tipo de tecnologia na transferência de dinheiro de uma pessoa para outra. Enquanto o aplicativo de banco exige que a digitação do número do banco, da conta, da agência e do CPF do destinatário do crédito, nas carteiras digitais basta selecionar o nome do usuário para fazer a transferência.
Outra vantagem da carteira digital é a instantaneidade do pagamento. “Hoje, os bancos não fazem transação de DOC e TED depois das 17h, não fazem aos fins de semana. O DOC demora, não é um sistema moderno. No aplicativo, é instantâneo mesmo, na hora”, afirma Tulio Oliveira, diretor do Mercado Pago, empresa de serviços financeiros do Mercado Livre.
Segundo ele, o aplicativo do Mercado Livre processou cerca de 5 bilhões de dólares na América Latina. A maior parte desse dinheiro, que passou pelo Mercado Pago, foi sacado pelos vendedores do marketplace. “Tem um monte de dinheiro novo que não está sendo usado nessa rede. Imagina se a gente começar a usar, levando dinheiro novo para o varejista.”
A tendência da maioria das empresas que trabalham com carteira digital é devolver para o cliente parte dos gastos utilizados no aplicativos em créditos, é o chamado cashback.
Para Alexandre Pinto, diretor de inovação e novos negócios Matera, esse tipo de iniciativa indica para a redução da dependência de serviços bancários. “As tarifas bancárias são muito caras. “Os bancos cobram de 7 a 15 reais por TED, enquanto existem fintechs que conseguem fazer transferência por custo zero.”
Oliveira, do Mercado Pago, diz que as novas formas de pagamento reduzem o custo do dinheiro de papel. “Quanto custa uma nota de 100 reais? É muito caro emitir uma nota. Tem o custo da Casa da Moeda, do carro-forte para transportá-la, a blindagem da agência bancária. Toda essa parafernália custa muito e tudo isso pode ser substituído pelo celular, ao alcance de todos.”