FMI corta em mais da metade a previsão para o PIB do Brasil em 2019
Segundo o fundo, incertezas na aprovação da reforma da Previdência desanimaram investidores; previsão anterior, feita em abril, era de 2,1%
O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou de 2,1% para 0,8% a estimativa de crescimento do Brasil em 2019. A projeção para o produto interno bruto (PIB) está no relatório Perspectivas Econômicas Globais, divulgado nesta terça-feira, 23, pela entidade, que revisou o crescimento global para o ano. Segundo o fundo, a situação do Brasil acontece porque “a confiança enfraqueceu consideravelmente, à medida que persiste a incerteza sobre a aprovação da reforma da Previdência e outras reformas estruturais”.
A revisão de 1,3 ponto porcentual da estimativa de abril entra em linha com o que o mercado financeiro e o próprio governo esperam para o desenvolvimento do PIB do Brasil para este ano. Analistas de mercado mostram que o país deve crescer 0,82%, de acordo com previsões divulgadas pelo Boletim Focus na segunda-feira. Já o governo federal revisou a previsão para 0,81%, em projeção anunciada no começo de julho.
A reforma da Previdência que foi aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados tem impacto fiscal calculado em 933,5 bilhões de reais. Para entrar em vigor, o projeto precisa do aval dos deputados em segundo turno e ainda terá de passar no Senado.
O documento do FMI foi elaborado antes do anúncio de medidas de estímulo econômico como a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que deve ser detalhada nesta quarta-feira, 24.
O crescimento da América Latina também foi revisado. A estimativa é que a economia da região cresça 0,6% este ano, um corte de 0,8 ponto porcentual em relação ao último cálculo de abril. Para 2020, a previsão também foi ajustada ligeiramente para baixo, para 2,3%. “Na América Latina, a atividade desacelerou significativamente no início do ano em várias economias, principalmente devido a fatores regionais”, disse o fundo, que pediu aos governos que regulem os gastos fiscais e o endividamento.
As disputas tarifárias e os embates por acordos comerciais, junto com o aumento da dívida e a incapacidade de levar adiante as grandes reformas macroeconômicas, prejudicaram as perspectivas do Brasil e do México, as principais economias latino-americanas, disse o FMI.
Crescimento global
Mais tarifas entre Estados Unidos e China, taxas sobre automóveis ou um Brexit desordenado podem desacelerar ainda mais o crescimento, enfraquecer investimentos e prejudicar cadeias de fornecimento, avaliou o FMI ao revisar de 3,3% para 3,2% o crescimento da economia mundial para este ano.
Segundo o Fundo, dados econômicos divulgados até agora neste ano e inflação em geral fraca apontam para atividade global mais fraca que o esperado, com tensões comerciais e tecnológicas e crescentes pressões desinflacionárias representando riscos futuros.
O fundo cortou sua previsão de crescimento do comércio global em 0,9 ponto porcentual, para 2,5% em 2019. O comércio deve se recuperar e crescer 3,7% em 2020, cerca de 0,2 ponto porcentual a menos do que o projetado inicialmente. O crescimento do volume de comércio caiu para cerca de 0,5% no primeiro trimestre, disse o FMI, com a desaceleração atingindo principalmente países asiáticos emergentes.
“O principal fator de risco à economia global é que desdobramentos adversos – incluindo tarifas adicionais entre EUA e China, tarifas de automóveis dos EUA, ou um Brexit sem acordo – minam a confiança, enfraquecem o investimento, deslocam cadeias globais de fornecimento e desaceleram severamente o crescimento global para abaixo do cenário básico”, disse o FMI.
(Com Reuters)