Futuro da política monetária dita ritmo do mercado na semana
Ibovespa cai 1% na semana e dólar acumula perdas de 0,7%, de olho em dados da economia brasileira e americana
A primeira semana de setembro termina com um sabor agridoce para os ativos brasileiros, após a divulgação de indicadores importantes na semana, que apontam para um fortalecimento da economia doméstica, de um lado, e para um esfriamento da atividade nos Estados Unidos, de outro. No vaivém de expectativas em torno dos dados, o Ibovespa termina a semana em baixa, enquanto o real registra uma pequena valorização frente ao dólar.
No fim da sessão de hoje, o principal índice de ações da B3 caiu 1,41%, aos 134.572 pontos, enquanto o dólar subiu 0,34%, a 5,59 reais. Na semana, o Ibovespa acumula baixa de 1%, enquanto o dólar registrou queda de 0,7%.
No último pregão da semana, prevaleceu sobre entre investidores a tendência de venda de ativos de risco após o relatório de emprego e desemprego conhecido como “Payroll” nos Estados Unidos. Segundo a publicação, em agosto, foram criadas 142 mil vagas de trabalho, abaixo do esperado por analistas e economistas. Os dados bem mais fracos do que o esperado mostram que a economia americana está perdendo de força, o que afasta os receios de uma inflação mais forte e, portanto, reforça a tese de que o Federal Reserve (Fed), o banco central do país, terá espaço para iniciar o ciclo de corte de juros já na reunião deste mês.
Por outro lado, os investidores também vêm utilizando os dados para tentar medir o risco de a economia americana passar por um “hard landing”, ou seja, uma recessão mais severa — razão pela qual o dado do Payroll motivou a busca por ativos de menor risco no dia. O mercado, bastante sensível, deve continuar acompanhando a divulgação de outros dados até a decisão de política monetária pelo Fed para tentar medir em que estágio está a maior economia do mundo.
“De um lado, temos a certeza de que o ciclo de cortes na taxa de juros vai mesmo iniciar em setembro. De outro, aumentam as dúvidas sobre qual será o movimento inicial e as sinalizações para a extensão e profundidade do ciclo”, afirma Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
No Brasil, a situação é inversa. Na terça-feira, investidores acompanharam a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, cujo crescimento veio acima do esperado tanto na comparação com igual período do ano passado (3,3%), quanto em relação ao trimestre imediatamente anterior (1,4%).
Dados mais fortes contribuem para a melhora das perspectivas para setores ligados à atividade real, como varejo e consumo, que chegaram a ter um bom desempenho na bolsa. No entanto, um PIB mais forte tem grande potencial inflacionário, o que reforça a tese de que o Banco Central terá de subir os juros em breve para trazer a inflação para a meta. Juros mais altos tiram atratividade da renda variável e, portanto, contribuem para o ajuste negativo do Ibovespa.
“Esperamos uma acomodação da atividade brasileira na segunda metade do ano, em função do menor impulso fiscal e da manutenção da política monetária restritiva”, afirma Igor Rocha, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Diante das informações disponíveis até o momento e, sobretudo, devido às surpresas positivas da atividade no primeiro semestre, revisamos a projeção de crescimento da economia brasileira de 2,2% para 2,7% em 2024.”