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G20: Haddad diz que falta “vontade política” para erradicar a fome

Ministro voltou a defender a taxação de super-ricos para o combate à pobreza; relatório da ONU mostra que mundo ainda está distante de acabar com a fome

Por Camila Barros Atualizado em 24 jul 2024, 17h29 - Publicado em 24 jul 2024, 12h46
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  • “A comunidade internacional tem todas as condições para garantir a cada ser humano uma existência digna, o que tem faltado é vontade política”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante o pré-lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, nesta quarta-feira, 24, no Rio de Janeiro. Ele citou que, na OCDE, menos de 10% da ajuda oficial ao desenvolvimento se destina a combater a fome e a pobreza.

    O ministro voltou a defender a taxação dos super-ricos, pauta cara a sua administração. “Se os bilionários pagassem a taxa, o resultado seria de US$ 200 bi a US$ 250 bi por ano, cinco vezes o que os dez maiores bancos multilaterais dedicaram ao enfrentamento à fome e à pobreza em 2022”, disse. Haddad também defendeu iniciativas de inovação em instrumentos de financiamento para o desenvolvimento, parcerias público-privadas (PPPs), além da reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento.

    A Aliança Global buscará mecanismos para mobilizar recursos financeiros e conhecimento de países e entidades internacionais no combate à pobreza. A expectativa é que a iniciativa seja lançada oficialmente em novembro, durante a Cúpula de Líderes do G20, no Rio.

    Longe da meta

    A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), órgão vinculado à ONU, divulgou nesta quarta o relatório “Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo”. O documento revela que o mundo ainda está longe de alcançar a meta de zerar os índices globais de fome e insegurança alimentar até 2030, objetivo estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015.

    O nível global de subnutrição se manteve intacto pelo terceiro ano consecutivo, depois de subir consideravelmente durante a pandemia de covid-19. O documento estima que 28,9% da população global (cerca de 2,33 bilhões de pessoas) estava em situação de moderada ou severa insegurança alimentar em 2023.

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    Desse total, entre 713 milhões e 757 milhões de pessoas podem ter enfrentado a fome em 2023. O número representa uma a cada 11 pessoas no mundo.

    A situação é especialmente crítica no continente africano, onde um em cada cinco indivíduos estavam sujeita à fome no ano passado. A África ainda vê seus índices de insegurança alimentar crescerem. Na Ásia, os números ficaram relativamente estáveis, enquanto a América Latina e o Caribe apresentaram progresso.

    No Brasil, 8,4 milhões de pessoas (3,9% da população) passaram fome entre 2021 e 2023. Trata-se de uma melhora em relação ao triênio de 2020-2022, quando o número alcançou 10,1 milhões (4,7% dos brasileiros), sob efeito severo da pandemia de covid-19.

    Outro dado alarmante diz respeito ao acesso à alimentação saudável. Estimativas atualizadas mostram que mais de um terço da população (aproximadamente 2,8 bilhões de pessoas) não conseguia pagar por uma dieta saudável em 2022.

    “É necessário acelerar a transformação dos nossos sistemas agroalimentares para fortalecer a sua resiliência e abordar as desigualdades”, escreve o relatório, que cita projeções de que 582 milhões de pessoas ainda estarão em estado de desnutrição ao final da década. “O mundo não está no caminho para alcançar nenhuma das sete metas globais de nutrição até 2030”, completa.

    O relatório ainda destaca a insuficiência dos investimentos públicos e privados para mitigar a insegurança alimentar. Entre 2017 e 2021, os poderes públicos direcionaram uma média total de 76 bilhões de dólares por ano para o problema. Já o financiamento privado, proveniente de filantropia ou investimento estrangeiro direto, foi de 95 bilhões de dólares por ano no período de 2017 a 2022. Os empréstimos para agricultura, silvicultura e pesca registram um declínio contínuo.
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