Gabriela Pugliesi e a enxurrada de pessoas físicas na bolsa de valores
A influencer gerou revolta entre financistas ao indicar a seus seguidores que invistam em renda variável
A influencer Gabriela Pugliesi foi um dos ícones que transformou a maneira como empresas se relacionam com consumidores. A blogueira fitness, cancelada após o episódio em que realizou uma festa em sua casa em meio à pandemia, voltou a utilizar sua conta no Instagram após três meses e chamou a atenção de um público diferente do usual. Na manhã de quinta-feira, 23, ela contou que, devido ao confinamento, descobriu um novo talento: investir na bolsa de valores. Como é normal em suas declarações, personalidades e empresas são citadas e marcadas nas postagens. É a entrega de um produto publicitário. No “story” financeiro, o nome realçado foi o de Rafael Ferri, parceiro da plataforma de investimento para pessoas físicas Traders Club. Se Pugliesi investe de fato ou não na bolsa, não se sabe, até porque, ela não quis falar com a reportagem. Mas sua inserção neste mundo é o reflexo de uma avalanche de pessoas físicas que passaram a investir em ações durante a pandemia. Um verdadeiro fenômeno que está no início.
De 2002 a 2020, houve um salto magistral no número de pessoas físicas na bolsa. Saiu de 85.249 naquele ano para 2,65 milhões neste último mês de junho. Somente no primeiro semestre deste ano, quase 1 milhão de novos CPFs foram registrados na B3. É óbvio que esse contingente de pessoas com alto poder aquisitivo e alto grau de informação chamaria a atenção. Todos buscam alguma forma de explorar comercialmente toda a pujança econômica oriunda desses novos investidores. Aliás, é justamente a migração dessas pessoas, cuja maioria investia apenas pela poupança ou pelo Tesouro Direto, que permite que a bolsa conquiste ganhos formidáveis desde o colapso causado pela disseminação da Covid-19.
Desde o fundo do poço, registrado em 23 de março deste ano, o Ibovespa, principal índice de ações do país subiu 61%. Grande parte disso foi fomentado pelos bancos centrais mundo afora que abriram suas torneiras e causaram uma enxurrada de dólares no mercado financeiro. Porém, o ingresso de 700 mil pessoas após essa data explica de forma mais clara o avanço dos ativos. Um exemplo: somente nos dias entre 8 de julho e 21 de julho, as pessoas físicas injetaram 190 milhões de reais na B3. Em contrapartida, os investidores estrangeiros retiraram 217 bilhões de reais, as empresas outros 32 bilhões de reais. A relação entre pressão vendedora e compradora não reflete diretamente nos preços das ações, mas sem o ingresso desses investidores, seria praticamente impossível a valorização do Ibovespa no período.
Na comunidade financista que habita o Twitter, conhecida como Fintwit, a repercussão da publicação de Pugliesi virou galhofa e meme. Perfis jocosos e falsos da influencer se popularizaram. Muitos gestores acreditam que as falas leigas da “musa fitness” podem induzir investidores inexperientes ao erro. Contudo, a incursão de uma influencer neste mundo nada mais é do que a popularização de uma ferramenta crucial do mercado de capitais e o reflexo do crescente interesse de pessoas comuns pela bolsa. Ainda assim, pouco mais de 1% da população brasileira investe em bolsa, enquanto que nos Estados Unidos, estimativas indicam que mais de 60% da população já investiu nas diversas bolsas existentes por lá. É o momento de os gestores brasileiros entenderem que quanto maior o número de pessoas físicas na bolsa, melhor para todo o sistema financeiro brasileiro, para eles, e para a população, que descobre uma ferramenta para melhorar seus padrões de vida.