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A boa fase do gim nacional

Fabricantes nacionais fazem boas versões do destilado utilizando ingredientes como folha de cana-de-açúcar, mexerica e pimenta-rosa 

Por Erich Mafra
Atualizado em 4 jun 2024, 15h51 - Publicado em 6 set 2019, 06h30

O gim nasceu na Holanda em meados do século XIV como uma opção de tratamento renal. Acreditava-se que um de seus principais componentes, o zimbro, poderia trazer benefícios à saúde. Mas o efeito nos tratamentos não foi o desejado e, tempos depois, o remédio virou bebida quando os ingleses aperfeiçoaram a fórmula, dando origem a um destilado de sucesso e alto teor alcoólico (entre 38% e 50%). Passadas várias décadas de um relativo ostracismo, o gim voltou à moda no mundo e no Brasil. Desde então, as vendas têm crescido de forma impressionante. Segundo o levantamento mais recente disponível, foi consumido por aqui 1,8 milhão de litros da bebida em 2017, 66% a mais que o total registrado em 2016.

A sede pelo produto incentivou o surgimento de ótimos rótulos feitos de forma artesanal no país. De 2016 para cá, mais de vinte variações brasileiras de gim trouxeram à fórmula ingredientes como cana-de-açúcar e pimenta, com preços que variam de 75 a 157 reais (veja a galeria de fotos abaixo). A tropicalização da receita britânica acrescentou novos sabores a drinques clássicos como o dry martini e inspirou uma série de coquetéis nas cartas de bares da moda de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. “Os nacionais não devem, hoje, nada em qualidade aos importados”, garante Wagner França, bartender do Holy Burger, uma das melhores lanchonetes da capital paulista.

Um dos pioneiros do mercado, o Virga, surgido em Pirassununga, no interior de São Paulo, destila o produto em alambiques de cobre e usa na receita itens como o pacová, uma planta muito comum na Mata Atlântica. “Queríamos dar esse toque de brasilidade como diferencial do nosso rótulo”, afirma Felipe Jannuzzi, que faz parte do quarteto de empresários responsáveis pelo Virga. A companhia fabrica hoje 30 000 litros, 200% a mais do que em 2016, quando iniciou a operação. Feito pela Weber Haus, localizada em Ivoti, no Rio Grande do Sul, o London Dry Gin WH48 acrescentou à fórmula erva-­mate, folha da cana-de-açúcar e gengibre nativo da região.

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Algumas dessas marcas começam a ganhar prestígio fora daqui, caso do Amázzoni, do Rio de Janeiro. Com uma composição que leva ingredientes como mexerica, limão e louro, faturou em 2018 o título de melhor produto artesanal do ano do World Gin Awards, em Londres, a mais conceituada premiação mundial da categoria. Apesar da crescente visibilidade, esse grupo de rótulos nacionais representa ainda uma fatia menor do mercado — no ano passado, rendeu cerca de 36 milhões de reais. Mas a evolução do negócio segue em um excepcional ritmo. A previsão é que o volume aumente cerca de 20% em 2019.

Outra curiosidade relacionada ao gim nacional é que parte considerável dos rótulos nasce dentro das destilarias de cachaça, a exemplo do Amázzoni, aproveitando a capacidade ociosa dos alambiques e os bons equipamentos já instalados. “Até os anos 90, a infraestrutura desses lugares dedicados à produção artesanal era bem precária”, lembra Paulo Leite, um dos maiores especialistas do país nesse mercado e consultor de marcas da companhia Multifoods. “Os empresários do setor investiram bastante para incrementar suas propriedades”, completa. Dessa forma, o moderno gim nacional nasceu com dois dedos da velha e boa cachaça brasileira.

Publicado em VEJA de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651

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