Greve de caminhoneiros reduz previsão de crescimento econômico em 2018
Indicadores positivos de abril são ofuscados pela impacto da paralisação, que ocorreu durante o mês de maio e vai levar à alta menor do PIB no ano
O resultado da indústria, comércio e serviços em abril indicavam um início de recuperação para a economia do país. O problema é que a greve dos caminhoneiros deflagrada em maio adiou essa trajetória de retomada, reduzindo a expectativa de crescimento em 2018. Bancos e consultorias refizeram suas contas e os mais otimistas projetam um aumento do PIB de no máximo 2% neste ano.
“A greve dos caminhoneiros potencializou as incertezas e, junto com os outros problemas que já tínhamos, reduz a confiança tanto para o consumo quanto para os investimentos”, diz o economista do banco Santander Rodolfo Margato.
O Santander, mesmo com a onda de pessimismo do mercado diante dos dados ruins do primeiro trimestre, manteve a projeção de crescimento do PIB para 2018. “Tínhamos uma avaliação otimista, mas com a paralisação há impacto e o crescimento será menor”, diz o economista. “Chegamos a projetar um crescimento de 3,2% para este ano. Antes da greve, estava caminhando para 2,5%. Agora, estimamos um PIB de 2% com simetria para baixo”, complementa Margato.
Para 2019, o Santander mantém a projeção de alta 3,2%. Em relação à inflação, o economista considera que a tendência é que fique dentro do centro da meta, que é de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual – variação de 3% a 6%.
O banco Itaú também reduziu as projeções de crescimento do PIB de 2% para 1,7% em 2018. Para 2019, o banco diminuiu sua previsão de crescimento de 2,8% para 2,5% devido ao aperto das condições financeiras e ao impacto da paralisação dos caminhoneiros.
“Elevamos ligeiramente as projeções de inflação para 3,8% este ano e 4,1% em 2019. As paralisações dos caminhoneiros devem provocar apenas uma pressão transitória na inflação, mas a depreciação cambial tende a exercer leve pressão altista”, diz relatório assinado pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita.
Para a economista-chefe da consultoria Rosenberg Associados, Thaís Zara, os eventos de maio devem ter impacto direto nos resultados do segundo trimestre e, consequentemente, para o restante do ano. “Prevíamos um PIB de 2,4% a 2,5% no segundo trimestre e agora nossa expectativa é de 1,5%, na comparação com o mesmo período do ano passado. Para o ano, esperamos uma alta de 2% ante 2,2%”, diz Thaís.
Para especialistas, os resultados de abril mostram que a economia começava a ganhar fôlego e davam sinais de recuperação. “Os dados de maio serão severamente afetados pela greve e junho terá reflexo, porque ainda temos a questão do tabelamento do frete para ser resolvida e a normalização da própria greve demora para acontecer”, comenta o economista Sérgio Vale, da MB Associados. Ele diz que a previsão de que o crescimento chegaria a 2,5% neste ano foi rebaixada para 1,9%.
Nesta sexta-feira, o Banco Central divulgou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) e mostra uma alta de 0,46% em abril na comparação com março. Conhecido como “prévia do BC para o PIB”, o IBC-Br serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses.
Além disso, o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do setor de serviços, que trazem um avanço de 1% em abril na comparação com março – o primeiro resultado positivo deste ano. As vendas do comércio varejista nacional também tiveram alta no quarto mês do ano, subindo 1% em abril na comparação com março. Foi a décima terceira taxa positiva seguida, embora a menos acentuada. E a produção industrial teve o melhor resultado para o mês de abril desde 2013, com crescimento de 0,8% em relação ao mês anterior.
“Os dados de abril mostram uma recuperação forte, mas maio tende a ser bem diferentes. Ainda temos alguns elementos que mostram a recuperação, como o consumo voltando em junho”, afirma Vale, da MB Associados.
A injeção de 39,3 bilhões de reais na economia com a liberação do saque do PIS/Pasep para cotistas de todas as idades que trabalharam entre 1971 e 1988 também vai contribuir para o incremento no consumo.