Guedes diz que pode deixar governo caso Previdência não avance
Ministro da Economia afirma, porém, 'não ser irresponsável de sair na primeira derrota', durante audiência no Senado
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta quarta-feira, 27, a senadores que pode deixar o governo caso não consiga aprovar a reforma da Previdência e outras “ideias que tem para o Brasil”, como a diminuição da dívida pública.
“Se o presidente apoiar as coisas que eu acho que podem resolver o Brasil, eu estarei aqui. Agora, se ou o presidente ou a Câmara ou ninguém quer aquilo, eu vou me sacrificar ao trabalho dos senhores? De forma alguma, eu voltarei para onde sempre estive”, afirmou em audiência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
No entanto, Guedes ponderou a sua declaração. “Não tenho apego ao cargo, mas não sou irresponsável de sair na primeira derrota.”
A declaração de Guedes vem após a relação entre o Planalto e o Congresso estremecer, principalmente com a Câmara dos Deputados. O presidente da casa, Rodrigo Maia, cobrou abertamente mais esforço do governo para a aprovação do texto, tanto de Paulo Guedes como do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Essa não é a primeira declaração que indica o desembarque do ministro do governo. Durante a cerimônia de posse do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em 14 de março, o ministro disse que caso a reforma fosse desidratada, isto é, tivesse economia menor que 1 trilhão de reais em dez anos, ele deixaria o governo. “Se botarem menos [de 1 trilhão de reais], eu vou dizer assim: ‘Eu vou sair daqui rápido, porque esse pessoal não é confiável. Não ajudam nem os filhos; então, o que será que vão fazer comigo?’”, afirmou.
O ministro desmarcou sua ida à Comissão e Constituição e Justiça da Câmara na véspera, causando mal-estar e na quarta-feira, no Senado, falou sobre Previdência e esforço para aprovação do pacto federativo para os senadores.
Na exposição com os senadores, Guedes voltou a dizer que não aprovar a reforma seria condenar as futuras gerações a ficar em um sistema previdenciário “falido”.
Questionado sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) do Orçamento, aprovada pela Câmara, Guedes disse que é contra o “carimbo” dado em um orçamento que já é engessado e pode estourar o teto. “Por outro lado, é uma demonstração de força política, do Congresso assumir seu protagonismo.”
Em alguns momentos, o encontro entre o ministro e senadores resultou em bate-boca. Guedes criticou o sistema de aposentadoria de políticos. “Você, por exemplo, como político pode se aposentar ganhando 20 vezes o que ganha um trabalhador.” A senadora Kátia Abreu (PDT-TO) interrompeu e afirmou que os parlamentares estão sujeitos ao teto do INSS. O ministro rebateu e disse que era a vez dele de falar.
O ministro também falou sobre a possível ida do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas deixou claro que não pretende apressar conclusões e que sair da Organização Mundial do Comércio (OMC) tem seu preço. “Nós queremos ir para a OCDE, mas temos de verificar benefícios e prejuízos. Isso não é um movimento rápido. Se tiver boa vontade, é um processo de um ano e meio, se não é assunto pra 3, 4 anos”, disse Guedes.
Senadores reforçam a nota emitida na véspera por 13 partidos demonstrando apoio à reforma da Previdência, mas enfatizando que, a aposentadoria para trabalhadores rurais e o Benefício da Prestação Continuada (BPC) são problemas no texto, e que a reforma não será aprovada sem mudanças e adaptações nesses tópicos. “Como está não tem a menor condição de passar essa proposta, nem aqui nem na Câmara”, disse o senador Paulo Paim (PT-RS).