Ibovespa cai e dólar sobe de olho em PIB e exterior
Dados mais fortes do Produto Interno Bruto (PIB) fazem crescer apostas de alta da inflação e da taxa Selic
Se, de um lado, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil significa uma ótima notícia do ponto de vista macroeconômico, com famílias consumindo mais e alegrando empresas de varejo e consumo, de outro lado participantes do mercado financeiro já esperam os efeitos disso para a inflação. Na gangorra das expectativas, os ativos brasileiros tiveram uma performance bastante tímida nesta terça-feira, com queda da bolsa de valores e alta do dólar contra o real.
No fim do pregão, o Ibovespa, principal índice de ações da B3, caiu 0,41%, aos 134.353 pontos, enquanto o dólar comercial subiu 0,38%, aos 5,6393. O movimento no dia foi bastante pautado pelo exterior, onde as bolsas americanas também encerraram no vermelho: o Dow Jones caiu 1,51%, o S&P 500 cedeu 2,12% e o Nasdaq teve baixa de 3,25%. O Índice Dólar, que mede o retorno da moeda americana frente a uma cesta de divisas globais, sobe 0,11%.
Pela manhã, o Ibovespa até tentou esboçar uma reação positiva após o PIB do segundo trimestre, mas passou o dia no zero a zero, perdendo força ao longo da sessão. No pano de fundo, estão as preocupações dos investidores com o nível de preços da economia à frente, considerando que uma atividade mais forte tem potencial efeito inflacionário. Com isso, economistas e agentes de mercado já começam a revisar para cima as suas projeções para a expansão do PIB no fim do ano, bem como endossar a tese de que o Banco Central eleve a taxa Selic já na próxima reunião, em setembro.
Segundo Guilherme Jung, economista da Alta Vista Research, a composição do PIB veio positiva, com serviços e consumo firmes, enquanto a retomada da indústria foi uma “surpresa benigna”, mas com possíveis efeitos para a política monetária.
“Nota-se que a taxa atual de 10,50% ao ano se mostra pouco restritiva e, com as condições de inflação distantes da meta, expectativas desancoradas e lado fiscal deteriorado, a possibilidade de uma alta de 25 pontos-base na próxima reunião do Copom [Comitê de Política Monetária] nos parece mais plausível”, afirma Jung, em nota.
O economista faz coro a uma série de leituras semelhantes colhidas por VEJA, que apontam para a necessidade de uma taxa Selic terminal mais elevada para lidar com a inflação — um cenário que joga especial importância sobre os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que será divulgado na semana que vem.