Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, 4, o italiano Antonio Filosa, presidente da Stellantis (conglomerado de marcas como Citroën, Fiat, Jeep e Peugeot) para a América Latina, parabenizou o governo pelo anúncio da redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI), anunciado na última semana. A medida, que passou a valer no último dia 1º, reduziu o IPI de vários produtos em até 25% — no caso dos automóveis, o corte é de 18,5%. Apesar dos elogios, Filosa reconhece que o efeito da proposta será apenas ‘paliativo’ e não trará grandes impactos para a redução no preço dos automóveis.
“A gente sempre diz que um dos motivos para a falta de competitividade na indústria brasileira é a alta carga tributária. Por esse lado, toda a melhoria da carga tributária é, claramente, excelente para nós. Acredito que isso que o governo fez foi um excelente passo. Parabéns para a equipe economica que trouxe essa possibilidade”, diz ele. “Agora, é preciso entender o contexto que estamos, que é um contexto, como nunca, inflacionário. Primeiro nós tivemos o impacto da Covid, depois as restrições na cadeia de componentes, como microchips e outros, e, agora, sofremos o risco de uma nova onda inflacionária das commodities, que pode surgir em decorrência do conflito da Rússia com a Ucrânia”, reitera.
Ele disse, ainda, que “independentemente do corte no IPI” os custos dos insumos da cadeia automobilística crescem ano após ano e, portanto, não é possível prever redução nos preços dos veículos. “A redução chega em um momento muito bom. A gente espera que essa redução na carga tributária seja um alívio para o cliente final, mas temos uma carga inflacionária muito grande neste momento. No médio e no longo prazo teremos benefício, mas, agora, tem uma bolha inflacionária”, afirma. Para ele, a extensão do conflito entre Rússia e Ucrânia trará mais pressão ainda para a cadeia. “Os fluxos logísticos daquela região foram interrompidos. É um evento terrível e que, do ponto de vista dos negócios, tem como primeiro efeito a inflação.”
No primeiro bimestre do ano, a Fiat, principal marca do grupo, foi líder de mercado no Brasil, com participação estimada em 20,9% e 49.715 unidades vendidas. Ao todo, o grupo obteve a marca de 80.675 carros emplacados no país, o que o coloca com uma fatia de 39,9% do mercado. Entre 2022 e 2025, a Stellantis lançará 16 novos modelos no país, além de 28 reestilizações e 7 modelos elétricos e híbridos. Um dos objetivos da empresa é trazer novas opções de pick-ups ao mercado, trazendo parte da produção da grife RAM para o país nos próximos anos.
“Claramente, os modelos RAM importados hoje não têm nada de baratos, dado o luxo que representam. São opções premium no mercado de pick-ups. Mas estamos fazendo estudos para expandir a marca com um viés brasileiro. Os novos produtos não serão baratos, mas poderão abranger classes maiores de consumidores”, afirma Filosa. “Temos gerado bastante simpatia em torno desse projeto de trazer a produção para o país por parte do CEO global, que conhece o mundo do agrobusiness brasileiro, e também pela proposta de lifestyle que essa marca dá. Se a gente conseguir convencer os acionistas, acredito que temos boas chances de fazer com a RAM o que Jeep fez no Brasil.”