Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Lavoura conectada

A pandemia acelerou a digitalização do agro brasileiro, a ponto de superar até mesmo o americano, em um processo que envolve grandes e pequenos produtores

Por Luisa Purchio Atualizado em 4 jun 2024, 14h39 - Publicado em 30 out 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em meio aos resultados cambaleantes da economia brasileira ao longo do ano, o agronegócio foi a exceção. A produção de commodities, principalmente da soja, foi beneficiada pela desvalorização do real diante do dólar e pela maior demanda por alimentos, sobretudo da China. São variáveis poderosas, mas há outros fatores que têm ajudado a impulsionar o sucesso da agropecuária brasileira. Um dos mais notáveis é o desenvolvimento tecnológico do setor, que implica em aumento de produtividade. Um estudo deste ano da consultoria McKinsey & Company mostrou que as fazendas brasileiras já utilizam mais recursos digitais do que as dos Estados Unidos: aqui 34% fazem negociações on-line, enquanto lá são 26%. “No Brasil já existe uma cultura digital forte no campo, e a pandemia acabou acelerando esse interesse por novas tecnologias”, explica Nelson Ferreira, executivo responsável pelo estudo.

    O avanço se dá em frentes múltiplas, em que produtores vêm transformando seus métodos de produção para redução de perdas e aumento nos ganhos. “Uma fazenda de gestão tradicional costuma perder até quatro sacas de grão por hectare. Com o uso dos novos recursos tecnológicos, essa perda não passa de meia saca”, compara Edson Vendruscolo, diretor de operações da empresa O Telhar Agro, uma das maiores produtoras de commodities agrícolas do país. Em suas propriedades em Mato Grosso, onde se plantam soja, milho, algodão e se cria gado, os agrônomos se valem de equipamentos como pluviômetros digitais, que medem com precisão as chuvas e o melhor momento para fazer alterações no solo e nas plantações. Da mesma forma, aplicam técnicas de telemetria para monitorar a distância o percurso das máquinas e usam smartphones e sistemas de geolocalização para a contagem das plantas. Já mapas de temperatura detectam se há pragas. Todo esse aparato acarreta um gasto extra de cerca de 40 reais por hectare. Mas o investimento compensa, pois só o pluviômetro digital permite a economia de 100 000 reais por ano.

    USINA SAO MARTINHO-AUTOMACAO-2019-0923
    PAINEL - Sala de controle: redução das perdas de grãos por hectare – (Emiliano Capozoli/VEJA)

    O desenvolvimento da tecnologia agrícola está diretamente relacionado aos desafios impostos pelo clima tropical e à maior suscetibilidade a pragas e insetos. Tanto que um dos setores com avanços mais substanciais é o monitoramento e controle de aplicação de agrotóxicos. A multinacional Syngenta, gigante global dos produtos químicos para lavoura, registrou um avanço de 400% no uso de seus sistemas de monitoramento no Brasil no último ano. O programa cobre 4,5 milhões de hectares, área que deve crescer 30% até o fim de 2020. “Em 2019, começamos a levar o sistema das grandes fazendas para o pequeno agricultor, e com a pandemia isso se acelerou”, diz André Savino, diretor de marketing da empresa.

    Continua após a publicidade

    Diante dos avanços, a academia está adaptando seus cursos às novidades. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-­USP), passou a oferecer em agosto a disciplina agricultura digital. “A agricultura hoje está fortemente ancorada na análise de dados”, diz Thiago Romanelli, professor da matéria. Essa é a base, por exemplo, do Projeto Cubo, desenvolvido pela Atvos, produtora de etanol e açúcar no interior paulista. Uma central localizada em Campinas se comunica por sinais de rádio com as máquinas de colheita das fazendas e processa as informações sobre seu desempenho. Nas duas usinas em que o projeto foi aplicado, as horas produtivas aumentaram em 20% e com ganhos estimados em 34 milhões de reais.

    A evolução tecnológica no campo implica em desafios. Hoje, apenas 38% da população rural tem acesso à conexão 4G. Isso significa que, apesar de investirem em conectividade, muitas fazendas coletam os dados com as máquinas agrícolas off line e os transferem posteriormente para os sistemas, quando se aproximam de uma conexão. A chegada do sistema 5G promete melhorar esse cenário, com os editais exigindo das operadoras a expansão da rede rural.

    Publicado em VEJA de 4 de novembro de 2020, edição nº 2711

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.