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Lojas de shoppings que reabriram, apesar da pandemia, têm vendas pífias

Com 107 complexos em funcionamento em 55 cidades, vendas de lojistas declinam mais de 60%; em algumas regiões, vale mais a pena ficar com portas fechadas

Por Felipe Mendes Atualizado em 23 Maio 2020, 10h15 - Publicado em 23 Maio 2020, 10h00
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  • As últimas semanas significaram um pesadelo constante para os lojistas de shopping centers do país. Ainda que 107 complexos comerciais em 55 cidades tenham voltado a funcionar no Brasil, os resultados não têm sido nada animadores. Com as restrições de isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus, as lojas que reabriram de duas semanas para cá acumulam perdas em suas receitas de, em média, 65% em relação ao ano anterior. Para mitigar os prejuízos, as varejistas estão recorrendo às operadoras de shopping centers em busca de diminuir ou postergar seus vencimentos com os espaços. O cenário é de deterioração dia após dia e incertezas cada vez mais elevadas. O consumidor sumiu. Mesmo assim, empreendedores do setor demonstram confiança de que o fluxo de visitantes irá aumentar pouco a pouco com o passar do tempo.

    Com a disseminação de Covid-19 pelo país, diversos estados estabeleceram decretos para o fechamento do varejo, a fim de evitar tumultos de pessoas e, assim, o estímulo ao contágio da enfermidade. A pressão das entidades do segmento pela reabertura do comércio, no entanto, tem surtido efeito em algumas regiões. É o caso, por exemplo, de Santa Catarina, primeiro estado a flexibilizar a quarentena, em 23 de abril. O empresário Tito Bessa Jr., dono e fundador da grife TNG, até tentou se animar com a novidade. Com duas lojas em Florianópolis, capital do estado, não demorou para notar que o fluxo de consumidores 80% menor seria crucial para que ele desistisse das operações. “Eu resolvi encerrar as minhas operações no estado. Não dá mais para esperar uma virada de uma loja que estava na corda-bamba. Em Florianópolis, estávamos vendendo apenas 10% do normal”, diz Bessa Jr, que projeta queda de até 30% para o faturamento das 165 lojas da TNG neste ano.

    O empresário, que também é presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites, a Ablos, reclama da postura diferenciada de alguns bancos no ato da concessão de crédito. Em sua visão, os bancos emprestam dinheiro a quem não precisa tanto enquanto deixa pequenos e médios empreendedores à deriva ao dificultar o acesso a linhas de crédito. “O crédito não está chegando na ponta. Quem mais precisa não está tendo acesso”, diz Bessa Jr. “Esses dias o Bradesco comunicou que já emprestou bilhões para as empresas do varejo. Mas, se você for ver, 99% desse dinheiro foi para o Magazine Luiza, para a Renner, para empresas que teoricamente não precisam tanto”. Instituída no último dia 18, a Lei 13.999/2020 será fundamental para que micro e pequenas empresas consigam, enfim, tomar crédito por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, o Pronampe, a taxa de juros menores e prazo de carência de até 36 meses. A linha de crédito é gerida pelo Sebrae.

    Segundo Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da consultoria GS&Malls, a fragilidade dos pequenos lojistas representa uma grande ameaça ao setor de shopping centers. “Alguns varejistas que já tinham uma situação mais frágil em termos de gestão, de caixa, de endividamento, vão ficar pelo caminho”, diz. “Isso vai obrigar os shopping centers, por um lado, a rever o mix de lojas e, por outro lado, a dar um apoio mais efetivo para os lojistas que permanecerem”. Para auxiliar micro e pequenos empreendedores dentro do ecossistema de shopping centers, diversas gestoras de complexos comerciais desenvolveram um programa de apoio que, além de oferecer capital de giro com a postergação de taxas fixas, dispõe de plataformas de gestão para auxiliar o lojista nesse momento de incerteza e baixo faturamento. “O perfil do shopping center vai mudar no pós-crise. Os varejistas de médio e pequeno porte vão ficar pelo caminho e abandonar esses locais. É preciso que as grandes redes de shoppings mais modernas tenham uma parceria mais estreita no que se diz respeito ao compartilhamento de informação e técnicas de gestão para pequenos lojistas”, diz Marinho.

    Para André Friedheim, presidente da Associação Brasileira de Franchising, é necessário que os shopping centers compreendam a situação dos lojistas e flexibilizem as taxas. “Mesmo faturando entre 30% e 40% do que as lojas deveriam faturar, elas operam no prejuízo. Por isso, solicitamos o pagamento de aluguel apenas percentual sobre as vendas do período, a isenção do fundo de promoção e uma redução drástica na taxa de custos de condomínio, já que os shoppings estão gastando menos luz, menos água e menos com segurança devido ao horário de funcionamento reduzido”, diz. Boa parte dos operadores de shopping centers pelo país tem aceitado a renegociação das taxas. Não se sabe ainda, porém, se um dos pedidos – a suspensão da décima terceira cobrança de aluguel, consumada em dezembro, será aceita. Há ainda, especificamente sobre as franquias, que representam 40% das lojas satélites dos shoppings, cobrança de taxas de transferências, quando um microempreendedor encontra um novo interessado para a franquia. A ABF, prevendo que alguns donos de franquias desistirão da operação, sugere a eliminação desta taxa para os próximos meses. A administradora Aliansce Sonae já acatou o pedido da entidade. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers, a Abrasce, as gestoras dos espaços já promoveram mais de 2 bilhões de reais em capital de giro com a postergação e a isenção de taxas aos lojistas no país.

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    Mesmo com o momento de esvaziamento dos shoppings para evitar aglomerações de consumidores, Nabil Sahyoun, presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, a Alshop, defende a reabertura do comércio. Segundo ele, o volume de vendas será recuperado paulatinamente com o decorrer dos próximos meses. O funcionamento das lojas seria, portanto, uma forma de se manter os empregos do setor. “Quem sustenta a saúde é a economia e nós vamos entrar num colapso econômico em que, infelizmente, teremos de acusar e jogar a responsabilidade em quem está tomando essas medidas de isolamento, seja governadores ou prefeitos. O governo federal está apoiando essa reabertura”, diz Sahyoun, que estima um déficit de 250.000 a 300.000 empregos no varejo de shopping centers caso as restrições se mantenham. “Teremos uma quebradeira de muitas empresas, infelizmente”. Hoje, 10 estados estão com complexos comerciais abertos. Nesta sexta-feira 22, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) assinou um decreto permitindo o funcionamento dos shopping centers no estado a partir de 27 de maio, próxima quarta-feira.

    Para voltarem a funcionar, a Abrasce e os governos estaduais recomendaram, ainda em abril, que os complexos respeitem uma série de recomendações, como horário de funcionamento reduzido, restrição de pessoas por corredores, utilização de máscaras por parte de funcionários e consumidores e a disponibilização de lavabos pelo local, sobretudo na praça de alimentação. “Os shoppings estão medindo a temperatura de funcionários e clientes e, além disso, disponibilizaram tapetes antibactericidas. É um novo normal, que vai durar algum tempo ainda. Não será só por 15 ou 20 dias”, diz Glauco Humai, presidente da entidade. Mesmo para shoppings em funcionamento, a Abrasce não tem recomendado a reabertura de espaços compartilhados, como cinemas, brinquedoteca, fraldário e academias. A julgar pelo declínio estarrecedor nas vendas dos comerciantes, é difícil prever uma volta à “normalidade” tão cedo. Com base em dados preliminares coletados nos primeiros 13 dias do mês, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), registra uma leve melhora de 6,5 pontos, para 64,7 pontos, na comparação com o mês anterior. O pequeno alento é provocado principalmente pelos saques do auxílio emergencial liberado pelo governo, mas não deve ser determinante para a retomada do consumo no curto prazo.

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