Com o avanço da vacinação e a abertura gradual das fronteiras, as capitais europeias começam a ver os turistas de volta. O movimento é tímido, mas até por isso mesmo responsável por permitir que as cidades estejam ainda envolvidas por uma atmosfera tranquila, silenciosa, bem diferente daquela que se costumava encontrar antes da pandemia. É nesse ambiente que Paris desperta depois de um ano e meio fechada em si mesma. A cidade, que tantas e tantas vezes renasceu, ressurge novamente, liderando a retomada no mercado de hotéis de luxo. Segundo a Consultoria Mordor Intelligence, o setor, avaliado em 2020 em cerca de 175 bilhões de dólares, deve crescer mais de 4% até 2026.
Não surpreende, portanto, que o LVMH, o maior conglomerado de grifes de luxo do mundo, tenha escolhido a capital francesa para marcar o momento com duas grandes inaugurações. Em junho, a holding, que é dona de nomes premium como Dior, Louis Vuitton e Tiffany, reinaugurou a La Samaritaine, a primeira loja de departamentos de Paris. Em estilo art déco, predominante entre o fim do século XIX e o começo do século XX, o prédio tem localização primorosa. Está à beira do Sena, pertinho da Ponte Neuf e do Museu do Louvre, bem no coração de Paris. A loja foi comprada pelo grupo LVMH em 2010 e passou anos fechada até que o presidente do conglomerado, o bilionário Bernard Arnault, decidiu investir em um cuidadoso projeto de restauração da fachada e renovação do interior do edifício que custou 500 milhões de euros e levou seis anos para ser concluído. Hoje, marcas populares não entram mais na Samaritaine, o que incomoda os parisienses, mas encanta os turistas endinheirados.
No dia 7 de setembro, a holding abriu a quinta unidade do hotel Cheval Blanc, também de sua propriedade, em edificação contígua à Samaritaine. Até agora, a bandeira Cheval Blanc estava em Courchevel, St. Tropez, St. Barths e Ilhas Maldivas. O hotel tem apenas 72 quartos, todos com vista para o Sena, e diárias que começam em 1 200 euros. O menor possui 45 metros quadrados. O maior, 1 000 metros quadrados. A suíte mais exclusiva contém obras de arte escandalosamente belas. Uma delas é a escadaria desenhada pela escultora francesa Claude Lalanne. Junto com o marido, François-Xavier Lalanne (1927-2008), ela formou uma das duplas mais festejadas da arte contemporânea. O trabalho hoje exibido na suíte do hotel foi o último de Claude, que morreu em 2019. O design interior foi criado por Peter Marino. O americano entende a linguagem premium como poucos. Desde 1978, quando seu trabalho de decoração do apartamento de Andy Warhol em Nova York repercutiu nos Estados Unidos e na Europa, Marino já foi chamado para desenhar os ambientes de grifes como Chanel, Fendi, Armani e Louis Vuitton.
Cheval Blanc Paris é exemplo da chamada experiência de alto luxo, algo no qual as marcas de turismo vêm investindo. “As pessoas estão querendo um pouco mais de privacidade e, ao mesmo tempo, ficar em lugares melhores do que suas casas quando viajam”, explica Ilan Wallach, dono da GSP Travel e integrante Grupo Virtuoso, rede composta das melhores agências de viagens de luxo do mundo. Uma experiência que agrada muito é a gastronômica. No Cheval Blanc Paris, há quatro restaurantes, um deles comandado pelo chef Arnaud Donckele, dono de três estrelas no Guia Michelin. Outro é liderado pelo chef milanês Enrico Buonocore e tem frutos do mar como os ingredientes de resistência. Localizado no 7º andar, o restaurante está ao lado do jardim de onde é possível contemplar a cidade e renovar o olhar. Paris, como escreveu Ernest Hemingway, é mesmo uma festa.
Publicado em VEJA de 29 de setembro de 2021, edição nº 2757