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“Precisamos de sinal de robustez fiscal”, diz economista Maurício Oreng

Ele afirma que o Brasil deve enfrentar uma desaceleração no 2º semestre

Por Pedro Gil Atualizado em 13 set 2023, 11h20 - Publicado em 13 set 2023, 08h32

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou expansão de 0,9%, em resultado trimestral divulgado na última semana. O resultado surpreendeu analistas, que estimavam um avanço bem mais tímido, de 0,2%, e deve motivar uma série de revisões nas estimativas para o crescimento da economia em 2023.

Apesar da “boa surpresa”, como disse o presidente Roberto Campos Neto, o Brasil é um país marcado por oportunidades perdidas. De 2013 a 2022, o nosso PIB cresceu em média 0,75% ao ano. Sob qualquer ângulo, trata-se de desempenho vergonhoso, que representa uma afronta ao tremendo potencial brasileiro.

Na última segunda-feira, 11, o Boletim Focus, publicação semanal do Banco Central (BC), revisou mais uma vez as perspectivas para o crescimento da economia brasileira em 2023. A previsão para o PIB foi elevada para 2,64%, um acréscimo de 0,08 ponto percentual em relação à semana passada, quando o mercado projetou alta de 2,56%.

Em entrevista a VEJA, o economista Mauricio Oreng, ex-superintendente de pesquisa macroeconômica no Banco Santander e ex-economista-chefe do Rabobank, diz que o Brasil precisa dar sinal de “robustez fiscal”. “É importante o Brasil não perder de vista essa questão, que é fundamental para um ambiente de negócios favorável”, afirma. 

Historicamente, um crescimento considerado bom é ao redor de 3%, mas isso ainda é muito abaixo do potencial de crescimento de um país como o Brasil. Como superar esse patamar? Essa qualificação depende muito do ponto de vista e do que você considera ser o PIB potencial. A nossa estimativa é de que o crescimento seja em torno de 1,5% ao ano no longo prazo. Para este ano, a gente projeta uma desaceleração. Estamos em fim de ciclo no agronegócio. Tivemos crescimento no ano passado de 2,9%, o que foi bom, dado uma série de medidas de estímulos, em 2022 e 2021. Tivemos reabertura da economia em 2022, mas fora isso a gente tinha no passado uma política monetária bem expansionista e impulsos fiscais, ciclo das commodities… Uma série de fatores que geraram uma conjuntura positiva. A economia está aos poucos desacelerando. Isso é importante para conter as pressões inflacionárias, que já estão cedendo. Desaceleração é natural, para aliviar pressões no mercado de trabalho. Crescimento de salários está acima da produtividade. É importante o BC controlar esse movimento, a velocidade de crescimento dos salários, para que não gerem pressões inflacionárias. A gente tem uma inflação que hoje está rodando na casa dos 3%. Mas é importante levar em consideração que temos grande influência de preços voláteis, fatores atípicos e cortes de impostos que vão gerar um efeito diferente a partir de setembro. 

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O movimento de corte de juros do BC contribui para o crescimento registrado no 2º trimestre? De fato temos uma queda da inflação. O que o BC está fazendo é reduzindo o grau de aperto, mas precisa de uma postura monetária contracionista para garantir que esses ganhos vão se acentuar lá na frente. No 1º trimestre o crescimento veio da agricultura. A variação da demanda doméstica foi levemente negativa. Não estou dizendo que o resto da economia está em recessão. Não está. O mercado de trabalho está forte, robusto. Agora outros setores estão perdendo ritmo. É natural, em função da política monetária. É assim que o remédio funciona. Estamos nessa fase do ciclo, com atividade desacelerando e inflação começando a ceder. 

Como deixar o histórico de voo de galinha? Se a gente fizer reformas, caminhar na direção de induzir maior produtividade e investimentos, puxamos nosso potencial para cima. O Brasil é um país que precisa melhorar o crescimento da produtividade e isso passa por diversos fatores, como qualificação de mão de obra e investimento não só em educação, mas na qualificação da mão de obra. Precisamos melhorar também nossos investimentos em infraestrutura, o que prejudica alguns setores. Um fator que está endereçado é com a reforma tributária. Precisamos melhorar questões relacionadas à tributação. O Brasil tem uma das maiores complexidades tributárias. Isso não ajuda a trazer investimentos, não ajuda na produtividade das empresas. A mão de obra aqui no Brasil já foi um fator que gerou crescimento, mas está se tornando escassa, em função da nossa demografia. O Brasil precisa crescer através de maior produtividade, fazer mais com menos, e aumentar investimentos. Temos baixa poupança e baixo investimento. 

Qual o diferencial competitivo do Brasil? O Brasil é um país com boas oportunidades de negócios, em vários setores diferentes. Somos um player importante no mercado de commodities. Tem uma questão geopolítica que, depois do conflito da Rússia, você tem oportunidades de investimentos que estão sendo direcionados ao Brasil. Temos um ambiente de negócios favorável, mas temos que avançar em discussões importantes, como reforma tributária. Isso vai ser de fundamental importância. Temos um caminho a trilhar. Não podemos esquecer da consolidação fiscal, é um ponto importante. Estamos a caminho de um déficit primário de 1% do PIB e nessa magnitude teremos um aumento da dívida nos próximos anos. É importante que fortaleçamos a questão fiscal. É importante o Brasil não perder de vista essa questão, que é fundamental para um ambiente de negócios favorável: a sinalização de robustez fiscal.

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