Considerando o desemprego de agosto, que atingiu 13,7 milhões de pessoas no Brasil de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a fotografia daqueles que se mantêm no mercado de trabalho com carteira assinada apresenta um panorama bastante conhecido dos brasileiros. Os cargos de mais alto escalão pertencem, majoritariamente, aos brancos. A conclusão é de um relatório publicado pelo portal VAGAS.com, de recrutamento e seleção de pessoas. Apesar de, percentualmente, serem maioria entre aqueles que concluíram os ensinos fundamental, médio e profissionalizante — e quase igualar o percentual de formados no ensino superior com os brancos –, os negros são maioria apenas em posições operacionais e técnicas do mercado de trabalho. A partir do nível júnior, os índices despencam até o cargo de diretor. O levantamento foi realizado em agosto e considerou o nível de ocupação cadastrado pelos usuários que preencheram o campo de declaração racial na plataforma.
Segundo os dados publicados pelo portal, 52,4% dos usuários analisados são negros e 43,3% brancos. Do total de negros, cerca de 9% está em cargos de nível pleno, ante 13% de brancos. No cargo de direção, a diferença é ainda mais acentuada: apenas 0,7% de todos os negros presentes no VAGAS.com estão empregados nessa posição, enquanto 2% dos brancos ocupam esse espaço. Já, no campo de trabalhos operacionais, os negros são maioria frente aos demais, com 47,6% de representação, assim como nos técnicos, em que estão estimados em 11,4%. “São dados extremamente alarmantes e que comprovam a clara presença do racismo no mercado de trabalho. Os números mostram que esse público é totalmente discriminado, tendo mais espaço em cargos operacionais. Essa discrepância fica ainda mais notória quando analisamos o nível de graduação de todas as raças, comprovando que há uma real distinção de oportunidades para os negros, especialmente em posições de suporte e gestão”, explica Renan Batistela, integrante do comitê de diversidade e inclusão do VAGAS.com.
Em outros níveis hierárquicos, os negros também têm participação menor em relação aos outros grupos. É verificado em níveis de suporte à gestão que 3,4% dos negros são gerentes, 3,5% ocupam a posição de sênior e 6,3% pertencem aos trabalhadores “júnior”. Já 8,3% declararam possuir cargos de supervisão/coordenação. Do total de brancos, eles ocupam, respectivamente, em 7%, 6%, 7% e 11% as posições citadas. “Detectamos que há um racismo estrutural, um racismo velado e que acaba prejudicando a justa inserção da população negra no mercado de trabalho”, analisa Batistela.
Os dados declarados de grau de instrução reforçam a pior posição dos negros no mercado de trabalho, afinal, eles ocupam as maiores participações de formação concluída em quase todas as faixas de ensino, menos no ensino superior, ainda que o índice esteja muito próximo. De todos os negros que estão na plataforma, 48% declararam possuir ensino superior, 11,3% garantem ter alguma certificação de ensino profissionalizante, e 30,9% concluíram apenas o ensino médio. Entre os brancos, 55% se formaram em alguma faculdade, 7% têm diploma em ensinos técnicos e 20% terminaram somente o ensino médio.