Mercado em alerta: dados reforçam apostas em corte de juros nos EUA
Resta saber o tamanho do corte. Dos 4 analistas consultados por VEJA, três enxergam a abertura para corte de 0,5 ponto percentual já na próxima reunião
O relatório payroll de agosto, que indicou a criação de 142 mil novas vagas de trabalho não-agrícolas nos EUA, veio abaixo das expectativas de mercado, que previam 160 mil. O número menor somado à revisão para baixo dos dados de criação de vagas sinaliza, na visão de analistas de mercado, reforça a expectativa de o Fed iniciar o ciclo de corte de juros em setembro.
Nesta sexta-feira a ferramenta CME FedWatch oscilou, as apostas em corte de 0,5 ponto percentual ficaram por um momento majoritárias, mas depois a expectativa de corte de 0,25 p.p. voltou a ficar majoritária (57%) contra 43% de 0,5 ponto percentual.
Após as falas do governador do Fed Christopher Waller, dizendo que é importante que o banco central dos EUA comece a cortar as taxas de juros neste mês em meio aos riscos crescentes de enfraquecimento adicional do mercado de trabalho o cenário se inverteu e as apostas do lado do corte de 0,50 p.p. voltaram a ser maioria. Waller disse que está “de mente aberta” quanto à possibilidade de um corte maior nas taxas.
Dos quatro analistas consultados por VEJA, três enxergam a abertura para corte de 0,5 ponto percentual já na próxima reunião. “Esses dados reforçam a visão de desaceleração no mercado de trabalho, o que é positivo para o Fed, que pode se sentir confiante em iniciar o afrouxamento monetário já em setembro”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Com esses dados, o Comitê do Fed pode optar por um corte maior na taxa de juros, de 0,5 ponto percentual, ao invés de 0,25 ponto, segundo Sung.
Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, tem uma visão semelhante, e diz que a desaceleração no mercado de trabalho foi mais forte do que o esperado. “O presidente do Fed, Jerome Powell, já indicou em Jackson Hole que está mais preocupado com o mercado de trabalho do que com a inflação, que segue desacelerando”, diz Luives. Diante dessa preocupação, ele também acredita que o Fed pode acelerar o corte de juros, com uma chance maior de uma redução de 0,5 ponto percentual na próxima reunião.
Caio Tonet, diretor de operações da W1 Capital, também vê o dado do Payroll como um sinal de desaceleração, mas entende que o movimento é branda, indicando um “soft landing” da economia americana.
“A economia está desacelerando, mas sem grandes choques. O mercado agora se volta para a próxima reunião do Fed, com a possibilidade aumentada de um corte de 0,5% nos juros”, diz Tonet. Ele acrescentou que a queda do DXY, índice que mede a força do dólar em relação a outras moedas, reforça essa expectativa nesta sexta-feira, 6.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e cofundador da Escola de Investimentos, diz que os números já eram esperados após a divulgação do resultado fraco no relatório da ADP, que é uma prévia do Payroll. “Embora o número não seja tão baixo, ele confirma uma desaceleração rápida no mercado de trabalho dos EUA, o que deve permitir ao Fed reduzir os juros nas próximas três decisões”, disse ele. Mas Cohen acredita que o mais prudente seria um primeiro corte de 0,25 ponto percentual, avaliando novos dados antes de decisões mais drásticas. “Reduzir 0,50 agora seria arriscado”, diz.