Motoristas de aplicativos de várias cidades do Brasil devem aderir a uma paralisação mundial nesta quarta-feira, 8, pleiteando maiores taxas tarifárias por corridas realizadas. Segundo a Associação de Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp), o valor não é reajustado há três anos e contrasta com o aumento no preço do combustível e do custo de vida.
Entidades e associações do setor estão organizando a paralisação. No entanto, a adesão é autônoma. Cabe a cada motorista escolher se desligará ou não o aplicativo da zero hora às 23h59. Além disso, motoristas, de forma autônoma, também estão organizando manifestações em diversos locais do país. Os motoristas pleiteiam uma taxa mínima de 10 reais por viagem, segundo a Amasp.
O movimento começou nos Estados Unidos, devido à abertura de capital (em inglês, IPO) da Uber na Bolsa de Nova York, marcada para sexta-feira, 10. A ideia é utilizar a data para chamar a atenção das pessoas sobre as condições de trabalhos dos motoristas. “A Uber está crescendo, ficando milionária, entrando na Bolsa, e os que lutaram para isso acontecer, os motoristas, estão ficando para trás. É uma forma de mostrar para o mundo que existe o motorista também”, afirma Eduardo Lima, presidente da Amasp.
Apesar do movimento estar relacionado com a Uber, no Brasil, motoristas de outros aplicativos como a 99 e o Cabify também devem aderir à paralisação, o que facilitaria as negociações, segundo Lima. “Se conseguirmos um aumento só para a Uber, por exemplo, as outras empresas saem no lucro e ganham a concorrência. Por isso, o ideal seria que todos tentassem”, afirma.
O que dizem as empresas
Procurada, a 99 informa que a remuneração de seus motoristas parceiros contempla duas variáveis: tempo e distância percorrida, além de uma tarifa mínima. Segundo a empresa, os ganhos do condutor são calculados de forma independente do valor pago pelo passageiro. O aplicativo afirma que é favorável à liberdade de expressão e “reforça seu compromisso de trabalhar para aumentar a renda dos condutores por meio de um número maior de chamadas e da cobrança de taxas menores em comparação à concorrência”.
Já a Cabify informa que reconhece o direito da livre manifestação pacífica dos motoristas e busca continuamente o diálogo para oferecer uma plataforma de mobilidade que abranja as necessidades de todos. A empresa também comunica que “eventualmente realiza ações e ofertas de benefícios, como descontos exclusivos em combustível em parceria com postos de gasolina, para ajudar os motoristas a reduzir despesas e aumentar seus ganhos”.
Procurada, a Uber não se manifestou até a publicação desta matéria.
Manifestações no exterior
No exterior, a paralisação de motoristas da Uber deve acontecer na manhã de quarta-feira e incluirá condutores do aplicativo Lyft, que abriu seu capital em março. Nova York, Chicago, Los Angeles e São Francisco são algumas das cidades que participarão do protesto, segundo o sindicato que reúne motoristas de táxi e aplicativos em Nova York.
Profissionais de cidades do Reino Unido, como Londres, Birmingham e Glasgow, também vão aderir à paralisação, de acordo com o jornal The Independent.
Entre as demandas anunciadas pelo sindicato, estão segurança do emprego; melhores salários, com o fim do cálculo antecipado do preço das viagens; e uma regulação da tarifa, com pelo menos 80% do valor da corrida garantido aos motoristas.
No pedido de abertura de capital da Uber, enviado à Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos (SEC), a empresa citou a insatisfação de seus motoristas como fator de risco. Para a companhia, essa insatisfação deve aumentar, tanto pelo investimento em carros autônomos como pela redução nos incentivos para os parceiros. O mesmo documento mostra que, em 2018, a Uber faturou 959 milhões de dólares no Brasil, ou cerca de 3,8 bilhões de reais.
(Com Estadão Conteúdo)