A desigualdade entre homens e mulheres ainda persiste no mundo corporativo. Apenas 15% dos assentos dos conselhos de administração em todo o mundo são ocupados por elas, segundo a quinta edição da pesquisa Women in the Boardroom – a global perspective, realizada pela Deloitte.
Na comparação com a edição anterior do estudo, em 2014, é possível observar que pouca coisa mudou. Há três anos, apenas 12% desses cargos eram ocupados por profissionais do sexo feminino.
Apesar de pequeno, o avanço pode significar uma mudança, segundo a sócia da Deloitte, Camila Araújo. “Há uma ascensão lenta, mas constante. Vamos começar a ver mais mulheres em cargos de liderança, até pelo próprio comportamento da sociedade brasileira. O homem está participando mais do dia a dia da casa e da família. Enquanto não tiver esse compartilhamento dentro de casa, não tem compartilhamento das atividades profissionais. Uma coisa limita a outra, senão a mulher tem que ser heroína. É impossível dar conta de tudo”.
Segundo ela, a discrepância na quantidade de mulheres em cargos de liderança pode ser explicada pela questão histórica. “No passado, a mulher tinha uma função caseira e o homem era o responsável pelos negócios e por trazer o dinheiro para dentro de casa. Nos últimos anos, notamos uma mudança no comportamento, as mulheres estão saindo mais de casa, trabalhando, ganhando diploma”.
Ainda de acordo com Camila, a nova geração de jovens que entra nas empresas compartilha da ideia de que homens e mulheres são iguais. “Não tem mais preconceito ou restrição, principalmente porque há mais mulheres do que homens se formando nas faculdades”.
No Brasil, as mulheres ocupam 7,7% dos cargos de liderança. No último estudo, a porcentagem era de 6,3% – a progressão é abaixo da média global.
Uma dessas mulheres é a gerente de operações da White Martins, Rejane Jardim, 40. A profissional entrou na empresa em 2004 e atualmente trabalha para garantir o funcionamento de plantas da empresa que estão distribuídas pela América do Sul – função que requer um esforço em equipe durante os 365 dias do ano, 24 horas por dia.
“O cargo que tenho hoje só foi ocupada por homens. A empresa confiou muito no meu potencial e comprometimento. Na época, as pessoas já mentalizavam que seria um homem o indicado para o cargo porque sempre foi assim. Mas aqui não criam obstáculos para gente aprender”, disse ela. “Quando assumi o cargo, outras mulheres perceberam que também era possível, aqui cada um cria a sua carreira”.
Além das dificuldades profissionais do novo cargo, ela teve que balancear a novidade com a vida pessoal – Rejane já era mãe de uma menina, Julia, à época com 2 anos.
“O desafio dobrou, pensei: ‘como enfrentar desafios maiores e também manter o dia a dia da minha vida pessoal, com escola e atividades?’. Às vezes, surgem questões como viagens, reuniões e isso requer que eu estenda meu tempo de trabalho, meu tempo livre diminuiu. Mas com amadurecimento aprendi a usar esse tempo com maior qualidade”.
Atualmente, Julia tem 9 anos e um irmão, Bruno, com 4 anos. Segundo Rejane, o apoio do marido foi fundamental para equilibrar a dupla jornada.
“Ele é analista de sistemas e trabalha como consultor autônomo home office. Combinamos nossos horários para dar suporte para as crianças. Ele tem horários mais flexíveis, mas se não pode ir em uma reunião de pais, por exemplo, eu tenho o apoio da empresa e vou. Se não tiver parceria não funciona. Não gosto do termo ‘ajuda’ porque é uma responsabilidade dele também”
Para a pesquisa, foram analisados 44 países. O Brasil ocupa a 37ª posição, à frente apenas do Chile, México, Rússia, Marrocos, Japão, Coreia do Sul e Emirados Árabes Unidos. O país que lidera o ranking, a Noruega, tem 42% de mulheres presentes nos conselhos de administração das empresas locais.
Para Rejane, as mulheres ainda têm receio de preencher uma vaga se não possui todas as qualificações exigidas. “Se um homem tem duas ou três qualidades, ele já se candidata. A mulher acha que precisa atender todas as demandas. Mas se você acha que é capaz, tem interesse e sabe que isso vai te trazer desafio profissional e crescimento deve se candidatar”.
Para ela, a redução da desigualdade só traz benefícios para o ambiente de trabalho. “Não tenho dúvidas de que o Brasil vai alcançar a equidade. Se a empresa não tem diversidade e não dá importância a isso ela fica na mesmice e vai se autodestruir”.