Continua a guerra entre o empresário Carlos Ghosn e a empresa que, um dia, comandou o conglomerado formado por Nissan e Renault. A montadora apresentou uma denúncia nesta quarta-feira, 12, a um tribunal civil japonês para exigir o pagamento de 10 bilhões de ienes, cerca de 90 milhões de dólares, por parte de Ghosn. O ex-manda-chuva, por sua vez, denunciou a montadora por uma demissão improcedente. O grupo japonês argumenta em um comunicado que a denúncia tem por objetivo recuperar uma “parte significativa” dos danos provocados por Ghosn durante anos de “conduta inapropriada e atividades fraudulentas”. De acordo com a Nissan, as “práticas corruptas” do brasileiro são o motivo para que a empresa cobre a quantia milionária do empresário, acusado de usar imóveis da empresa no exterior sem pagar aluguel, utilizar jatos com fins privados e de acoplar sua irmã por um emprego fantasma na montadora.
Os 90 milhões de dólares incluem também o custo de uma investigação interna contra Ghosn, assim como os gastos de vários processos judiciais em curso da Nissan no Japão, nos Estados Unidos e na Holanda. A Nissan afirmou que o valor solicitado pode aumentar porque o próprio grupo pode ser obrigado a pagar sanções financeiras.
No início do ano, Carlos Ghosn protagonizou uma fuga digna das telas de cinema ao fugir de Tóquio, no Japão, onde cumpria prisão domiciliar pelos supostos desmando no comando da Nissan-Renault, para Beirute, no Líbano — além das cidadanias brasileira e francesa, Ghosn tem nacionalidade libanesa. Ghosn foi preso em 2018, acusado de não declarar à Receita japonesa o equivalente a 167 milhões de reais recebidos entre 2010 e 2015 e de ter causado um rombo nas finanças da Nissan. Ele teria escapado do país enfiado em uma mala para se carregar instrumentos musicais. Ghosn nega as acusações e se diz vítima de uma perseguição política por parte da empresa.
O desempenho das duas empresas mostra que o período pós-Ghosn foi, de fato, ruim para a Nissan e para a Renault. Desde a saída dele, a montadora japonesa — pivô do escândalo que levou à sua prisão — perdeu mais de 11 bilhões de dólares (44 bilhões de reais) em valor de mercado e teve dois executivos-chefe, sendo que um deles, Hiroto Saikawa, renunciou após acusações de negociações ilícitas. A Renault trilhou caminho muito semelhante, com perda de 5 bilhões de euros (22 bilhões de reais) e também dois CEOs no período. Thierry Bolloré, sucessor imediato de Ghosn, foi demitido pelo conselho de administração da companhia em outubro, por não conseguir realizar a fusão entre a companhia francesa e o grupo ítalo-americano Fiat-Chrysler (FCA). A enrolada negociação com acionistas da Renault (entre eles o governo francês) levou a FCA a desistir da iniciativa e partir para uma associação com uma concorrente direta da companhia, a também francesa Peugeot-Citroën (PSA).
Ghosn, por sua vez, reclama à justiça holandesa o pagamento de 15 milhões de euros de indenizações por Nissan e Mitsubishi Motors por demissão improcedente.
(Com AFP)