A volta do auxílio emergencial foi aprovada há uma semana pelo Congresso Nacional e depende da publicação de uma medida provisória que autoriza os pagamentos pelo governo federal, ainda não editada. A reedição do benefício de proteção de renda aos vulneráveis pode custar até 44 bilhões de reais fora do teto e pagará quatro novas parcelas, que podem variar de 150 a 375 reais, a depender dos critérios que serão anunciados. De toda forma, economistas consultados por VEJA acreditam que a nova rodada de pagamentos não deve alavancar os setores da economia ligados ao consumo, como o comércio, na mesma proporção que em 2020.
“Faltou um pouco de planejamento, levando em conta que a pandemia se estenderia para além do ano de 2020”, analisa Luana Miranda, pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV IBRE. “Se a distribuição dos recursos fosse feita de forma mais homogênea nesse período, os impactos seriam mais positivos em 2021”.
Para se ter uma ideia, o índice da massa de rendimentos da população, calculado pela FGV, subiu 3% em 2020, na comparação com o ano anterior, muito por conta do auxílio emergencial. Todavia, sem o benefício nos primeiros meses de 2021, o mesmo índice teve retração de 0,6% em relação a 2020. Outro dado preocupante, de acordo com os cálculos da instituição, é que, mesmo com o novo auxílio emergencial, a massa de rendimentos da população deve despencar 9,4% no segundo trimestre do ano, em vista que a maior parte dos benefícios, em 2020, ficou concentrada nesse período.
No ano passado, o governo gastou mais de 300 bilhões de reais em auxílio emergencial, que foi distribuído para 68 milhões de pessoas. Foram cinco parcelas de 600 reais e até quatro com valor de 300 reais. Agora, o universo de beneficiados deve ser menor, entre 40 e 45 milhões, segundo o Ministério da Economia.
A avaliação é que, além do valor das parcelas ser menor, os beneficiários ficaram três meses sem receber o auxílio e, agora, terão de lidar com alguns fatores extras, como a inflação. Em fevereiro, por exemplo, o indicador foi o mais alto desde 2016, impulsionado, sobretudo, pelos combustíveis. Os alimentos, embora tenham desacelerado pelo terceiro mês consecutivo, ainda estão em um patamar elevado, em função dos sucessivos aumentos em 2020. Na última quarta-feira, 17, o Banco Central aumentou a taxa básica de juros em 0,75 ponto porcentual, no ímpeto de conter a inflação. Com juros mais caros, o consumo é desestimulado.
Os impactos da redução do auxílio emergencial já tinham sido sentidos em dezembro, quando o volume de vendas do comércio varejista caiu 6,1%, na comparação com novembro. Vale lembrar que, entre janeiro e março deste ano, os beneficiários não receberam nenhuma parcela do programa. Nesse período, o número de casos e mortes por Covid-19 disparou no Brasil, e os estados impuseram novas e mais duras medidas de restrição para diminuir o contágio pela doença. Assim, mais pessoas perderam renda.
Em síntese, a nova rodada do auxílio deve garantir o sustento básico com alimentação para aquelas famílias que realmente precisam do programa, mas nada além disso. “Teremos um benefício mais ajustado e focalizado em relação à condição fiscal do país. Agora, o governo aprendeu a alcançar a população que de fato necessita do auxílio”, afirma Sérgio Firpo, economista e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). “Não acredito que deva ocorrer um aumento no consumo, como em 2020. Esse efeito macroeconômico não vai acontecer, a economia deve continuar patinando no primeiro semestre”.
O consenso entre os economistas é de que a política mais eficaz para a recuperação econômica e dos empregos, e mais barata também, é a vacinação em massa da população. O ritmo, como se sabe, ainda está longe do ideal.