Dono de um currículo irretocável, o ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn entrou em rota de colisão com o Partido dos Trabalhadores (PT) por sua candidatura à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Brasil tinha uma espécie de “acordo de cavalheiros” com outros países para presidir o órgão na próxima gestão. Cada país tinha até a última sexta-feira, 11, para oficializar suas candidaturas, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, resolveu antecipar o processo, o que gerou uma revolta na equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que não endossa o nome.
A eleição ocorrerá no próximo dia 20. Sem o aval de Lula, é pouco provável que Goldfajn consiga amealhar os votos necessários no pleito, uma vez que o presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, não compactua com os interesses do governo de Jair Bolsonaro, realizador da indicação. Após receber os pedidos de adiamento das eleições por parte da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) e do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, o BID confirmou o pleito e deverá promover uma sabatina com Goldfajn neste domingo, 13.
Em entrevista a VEJA, Mantega lamenta a falta de diálogo por parte de Guedes para a escolha de um nome de ‘consenso’. “O governo Bolsonaro poderia ter negociado com o novo governo. É isso que se faz quando você está em final de mandato e tem um cargo importante para se definir. O nome poderia até ser do próprio Ilan, ele é um bom profissional, um bom banqueiro, mas a questão não é essa. Ele inscreveu o candidato Ilan na sexta-feira anterior ao domingo da eleição, sem negociar com ninguém, nem com outros governos latino-americanos, que são os principais eleitores”, disse Mantega. “Há um certo descontentamento em relação a isso, de modo que vários países acabaram lançando candidatos.”
O Brasil nunca presidiu o BID e a falta de apoio de Lula pode ser decisiva para a manutenção deste cenário caso Goldfajn não consiga convencer os Estados Unidos a endossarem seu nome. “O Brasil, por ser o maior país da América Latina e o segundo maior acionista no BID, já deveria ter assumido a presidência da instituição. Inclusive, isso já tinha sido prometido”, afirma Mantega. “Hoje, o fiel da balança é os Estados Unidos, com 30% dos votos. O Brasil e a Argentina têm 11%, cada. Então, quem acaba decidindo o jogo são os Estados Unidos, até porque eles têm mais influência sobre os países do Caribe”.
Ex-presidente do Banco Central entre 2016 e 2019, Goldfajn ocupa atualmente o cargo de diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional). Foi diretor de política econômica do BC entre 2000 e 2003, no governo de Fernando Henrique Cardoso, e também acumulou passagens em instituições privadas, como presidente do conselho do Credit Suisse e economista-chefe do Itaú Unibanco. Em 2018, Goldfajn foi eleito o melhor presidente de banco central no mundo, pela revista The Banker.
Em nota divulgada neste sábado, 12, o BID informou que, além do Brasil, quatro países membros fizeram indicações à presidência da instituição: Cecilia Todesca Bocco (Argentina), Gerard Johnson (Trinidad e Tobago), Gerardo Esquivel Hernández (México) e Nicolás Eyzaguirre Guzmán (Chile). O banco atua como um financiador de longo prazo, concede empréstimos, subsídios e cooperação técnica para o desenvolvimento econômico, social e institucional da América Latina e do Caribe. A sorte está lançada.