Em meio à confusão das últimas semanas na Petrobras, o presidente demitido da empresa, o general Joaquim Silva e Luna, fez um alerta importante. Em entrevista a VEJA, o (ainda) presidente da estatal afirmou que existe a possibilidade de faltar diesel nos próximos meses. “O risco existe. No Hemisfério Norte acabou o verão, o que aumenta a pressão sobre o gás. As medidas contra a Rússia afetam a distribuição de gás. Aí é lei de oferta e demanda, e o preço do diesel subiu muito”, afirma ele.
Ele afirma, porém, que a Petrobras elevou a produção para o topo de seus limites e afirma que, apesar de existente, o risco está em patamares controláveis. “Para mitigar esses efeitos, a Petrobras aumentou bastante sua produção. Estamos trabalhando no limite máximo de produção de diesel e gasolina para abastecer o mercado. O risco de desabastecimento está colocado, mas digo que não seria tão alto”, afirma.
Durante um grande evento de comemoração dos 85 anos do Ipiranga, rede de postos do grupo Ultra, muitas conversas entre distribuidores envolviam as preocupações com a possibilidade de faltar diesel em certas regiões do Brasil, como o interior de São Paulo, que já estava percebendo baixos níveis do produto, responsável por garantir a logística por modal rodoviário no país. “Tem muita gente falando sobre o risco de desabastecimento no óleo diesel porque a Petrobras não acatou 100% dos pedidos das distribuidoras. O Brasil é dependente de 25% de produtos importados”, diz Sergio Araújo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, a Abicom.
Diferentemente da gasolina, o Brasil depende bastante do diesel refinado importado. Apesar de ser autossuficiente em petróleo bruto, o país não tem produção suficiente em refinarias para entregar o diesel acabado. Como a Petrobras segurou os seus preços por semanas abaixo dos preços internacionais, os importadores evitaram comprar de fora. Segundo a consultoria S&P Global Commodity Insights, as importações líquidas de diesel e gasolina no Brasil caíram em janeiro. O volume importado de gasolina no mês ficou praticamente zerado, enquanto as de diesel baixaram em 105 mil barris por dia (barris/dia), em média, o menor volume desde setembro de 2018.
“Houve defasagem de preços nos meses de janeiro, fevereiro e março, quando o barril de petróleo superou os 130 dólares e a Petrobras não reagiu. Essa defasagem muito elevada afastou os importadores. Ninguém importou. Com isso, deve ter tido uma redução muito grande nos estoques das companhias do setor”, afirma Araújo. “Eu não tenho acesso aos estoques, então, não posso afirmar que vai faltar. O que eu posso afirmar é que a redução substancial das importações por conta da defasagem elevada aumenta o risco de desabastecimento. No entanto, a Agência Nacional de Petróleo, que monitora os estoques, tem dito que está tranquila, que não vai faltar. Por outro lado, ela também não pode fazer alarde. Então, é uma incógnita.”
O risco de desabastecimento do mercado, com capacidade de elevar os preços nos postos, foi um dos motivos alegados por Silva e Luna para a Petrobras ter feito o seu último reajuste de preços, que diminuísse a defasagem de preços frente ao mercado internacional. Foi essa mudança de preços da Petrobras que acabou por enfurecer o presidente Jair Bolsonaro e que levou à destituição do general.
Por volta das 11h desta segunda-feira, 4, as ações da Petrobras caíam cerca de 1,3% na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. A queda se baseia nas revelações de Silva e Luna para a edição impressa de VEJA, na qual admitiu as tentativas de investidas do presidente Jair Bolsonaro na estatal durante sua gestão. No domingo 3, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, indicado por Bolsonaro para presidir o conselho de administração da empresa, afirmou em uma carta aos conselheiros do Flamengo que renunciaria à indicação na estatal. A VEJA, Silva e Luna afirmar que Landim havia pedido um posto na empresa em setembro passado e deixado clara sua proximidade com Bolsonaro.