Os impactos da inflação na expectativa de alteração da Selic
Em um momento que a economia precisa de estímulos econômicos para crescer, analistas projetam subida gradual da taxa básica até o final de 2021
A aceleração da inflação traz preocupações extras além do impacto dos preços no orçamento das famílias. Acima das expectativas dos economistas, o IPCA fechou dezembro em alta de 1,35% e nos 12 meses acumulou alta de 4,52%. Além de mitigar o poder de compra da população, esse número gera dúvidas sobre como impactará na Selic em um momento em que a economia urge por estímulos monetários para poder crescer.
Grande parte dos analistas acredita que o Comitê manterá a Selic inalterada na primeira reunião de 2021 que acontecerá na semana que vem, porém começará a preparar terreno para sinalizar mudanças nos próximos meses. Na última reunião do Comitê, realizada em dezembro, o Copom já iniciou esses sinais ao comunicar que a “forward guidance” poderia ser suprimida dependendo do comportamento da inflação. Com o significado de “prescrição futura” em português, essa ferramenta sinaliza por quanto tempo a taxa de juros se manterá no nível atual e é utilizada desde agosto de 2020 pela instituição para afirmar que ela não subirá.
Apesar de a inflação de 2020 divulgada ontem ter sido alta, ela fechou dentro da margem de erro do Conselho Monetário Nacional, que previu um nível de 4% com margem de 1,5% para cima e para baixo. E uma margem de folga por enquanto também existe para 2021. A meta é de 3,75% com margem de 1,5 ponto porcentual e no último boletim Focus divulgado na segunda-feira, 11, o IPCA para 2021 estava em 3,34%. Não significa, entretanto, que a inflação é carta fora do baralho. Na terça-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, admitiu que há risco de inflação mais elevada no primeiro trimestre deste ano. “Foi muito dinheiro colocado na mão das pessoas durante a pandemia, que causou um impacto menor na economia. Mas o efeito de dezembro tem consequências sobre essa atividade, a questão climática, com quebra de colheitas e o caso de energia com restrição de produção da Arábia Saudita, elevando. Teremos uma inflação um pouco mais alta do que imaginávamos, algo que teremos que avaliar nos próximos ciclos”, afirmou em live da corretora XP, demostrando que há preocupação latente com o assunto.
Porém, caso o Comitê siga em linha com seu último comunicado, a inflação não será um problema que acarretará mudanças na Selic neste momento. “Claro que a inflação preocupa, mas a princípio boa parte desses fatores que pressionaram os preços devem ser dissipados ao longo dos próximos meses. Todo esse contexto sugere que ela deve estar minimamente alinhada com as metas e os objetivos para 2021”, diz Silvio Campos Neto, sócio da consultoria Tendências.
Isso não significa, porém, que a Selic não mudará gradualmente em 2021, afinal, há outros fatores pesando na taxa de juros historicamente baixa, como início da vacinação da população brasileira e o avanço da agenda econômica, que depende do governo Bolsonaro e das presidências do Congresso. A consultoria Tendências, por exemplo, projeta que ela subirá no segundo semestre, especificamente em setembro. Já a Necton espera que a Selic subirá entre o primeiro e o segundo trimestre e que fechará o ano em “pelo menos 4%” enquanto a XP Investimentos acredita que ela subirá gradativamente a partir de agosto e chegará a 3% no final de 2021. O Boletim Focus, por sua vez, projeta uma alta para 3,25% no final do ano.