O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, disse que a pandemia causada pelo novo coronavírus terá “efeito contracionista extremamente significativo sobre a atividade global”. A análise está na ata da reunião do colegiado, divulgada nesta segunda-feira, 23. Na última quarta-feira, o comitê cortou de 4,25% ao ano para 3,75% ao ano Selic, taxa básica de juros da economia.
Na economia brasileira, o aumento de casos da Covid-19 poderá ter três impactos na análise do Copom: falta de produtos devido a interrupção das cadeias produtivas, choque os custos de produção, devido a variação de preço das commodities (queda no preço de petróleo e minério de ferro, por exemplo) e de ativos financeiros (como a disparada do dólar). O terceiro impacto é a retração da demanda, devido o aumento da incerteza e de restrições impostas pela pandemia.
Para o BC, as medidas fiscais, com aumento de gastos por parte dos governos, e monetárias, como a redução de juros e injeção de recursos em sistemas financeiros, não são a solução e tendem a “mitigar apenas uma pequena parcela desses efeitos”.
Na semana passada, o governo brasileiro anunciou uma série de medidas para tentar diminuir o impacto do coronavírus na economia brasileira. Mesmo assim, admitiu que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) vai ser zero neste ano. Nesta segunda, o governo autorizou a suspensão de contratos de trabalho por até quatro meses, sem necessidade do pagamento de salário.
Corte na Selic
Segundo o Copom, para compensar esse efeito de contração da demanda interna por produtos e serviços, “seria necessária” uma redução da taxa básica de juros superior aos 0,50 ponto percentual, para 3,75% ao ano, anunciados pelo BC. Entretanto, o colegiado avaliou que uma redução da taxa básica de juros além de 0,50 ponto percentual “poderia tornar-se contraproducente e resultar em apertos nas condições financeiras [alta dos juros bancários], com resultado líquido oposto ao desejado”.
O Copom também concluiu, embora neste momento os efeitos da política monetária (reduções da taxa básica de juros) sejam limitados sobre o nível de atividade, os mesmos serão relevantes para acelerar a recuperação econômica. A instituição sinaliza na ata que pode fazer novos cortes na taxa de juros. “O Banco Central do Brasil ressalta que continuará fazendo uso de todo o seu arsenal de medidas de políticas monetária [cortes de juros], cambial [intervenções no mercado, ofertando moeda e contratos no mercado futuro] e de estabilidade financeira no enfrentamento da crise atual”, informou.