A saída de Pedro Parente do comando da Petrobras trouxe à tona a visão de que a independência da empresa frente ao governo está ameaçada. O executivo assumiu a companhia em junho de 2016 num cenário de desvalorização dos papéis e de perda de valor de mercado, puxado pela política artificial de preços adotada pela presidente Dilma Rousseff (PT) e pelos valores baixos do barril de petróleo no mercado internacional.
Parente chegou com a missão de tirar a empresa do atoleiro e conseguiu. No primeiro trimestre deste ano, a companhia registrou lucro de 6,96 bilhões de reais, alta de 56,5% na comparação com o mesmo período do ano passado e o melhor resultado trimestral desde o início de 2013, quando a estatal ganhou 7,69 bilhões de reais.
O crescimento foi amparado na nova política de preços da companhia e na alta da cotação internacional do petróleo. Em 2016, o preço do barril do petróleo Brent estava na casa de 35 dólares. Hoje, beira os 80 dólares. Aliado a isso, a independência da empresa frente ao governo, com a profissionalização da gestão, levou à recuperação de mercado. O processo de desinvestimento da companhia para reduzir o seu endividamento, iniciado na gestão Parente, também foi um fator positivo.
“Pedro Parente é um profissional gabaritado no mercado e emprestou a sua imagem para a reconstrução da companhia. Sua saída mostra que ele perdeu autonomia”, considera o analista de investimentos da Spinelli Corretora, Glauco Legat.
“Parente era a garantia de uma gestão eficiente e pautada em governança. Sua saída traz incerteza para o mercado e isso levou à queda nas ações”, diz o economista-chefe do Zeneconomics, Luiz Fernando Roxo.
Após o anúncio da saída do executivo do comando da Petrobras, as ações da companhia despencaram e levaram a Bolsa de Valores de São Paulo a suspender as negociações dos papéis da companhia.
“O retorno da credibilidade do mercado vai demorar um pouco. A tendência é que haja uma grande volatilidade nos preços das ações para baixo”, comenta o economista da Nova Futura Investimentos, André Lírio. Nesta tarde, a companhia escolheu Ivan Monteiro, diretor executivo da área financeira e de relacionamento com investidores, como diretor interino da empresa até que o presidente Michel Temer (MDB) escolha um substituto definitivo.
Política de preços
A política de preços adotada pela Petrobras – que prevê reajustes balizados pelo mercado internacional, inclusive diários – foi o estopim para a deflagração da greve dos caminhoneiros. Os profissionais e até políticos passaram a pressionar pela diminuição dos custos do combustível.
Diante do cenário de crise e desabastecimento, o governo cedeu ao pleito dos caminhoneiros e reduziu o preço do diesel em 0,46 centavos. Mesmo com o governo federal garantindo que iria reembolsar a empresa pelo desconto, a decisão mostrou interferência política nas decisões da estatal.
A falta de autonomia era um dos gatilhos para a saída de Pedro Parente. Nas últimas duas conferência telefônicas com investidores, o executivo garantiu que não deixaria a empresa, apesar da pressão de petroleiros que fizeram greve pela sua saída. No entanto, deixou frisou que não concordava com a perda da autonomia e deixou em aberto a possibilidade de saída, caso houvesse interferência política na estatal. Foi o que aconteceu nos últimos dias e culminou com o pedido de demissão na manhã desta sexta-feira.