Terceiro maior conglomerado cervejeiro do país, o Grupo Petrópolis voltou a investir em expansão após um 2019 tempestuoso, com executivos da empresa ligados à Operação Lava Jato. Dona de rótulos como Petra, Itaipava, Black Princess e Calcidis, a companhia inaugura nesta sexta-feira, 28, sua oitava e maior unidade fabril, com capacidade produtiva superior a 8,6 milhões de hectolitros de cerveja por ano. Instalado na cidade mineira de Uberaba (MG), o projeto recebeu aporte de 1,2 bilhão de reais e foi costurado há, pelo menos, um ano e meio, com apoio das autoridades locais, como o prefeito Paulo Piau (MDB) e o governador do estado Romeu Zema (Novo).
Segundo Marcelo de Sá, diretor de controladoria do Petrópolis, a aposta do conglomerado é conquistar o público mineiro por meio da fábrica. “Depois de fazer estudos para escolher o estado que receberia a nossa fábrica, vimos que estamos com 9,5% de participação de mercado no estado de Minas, enquanto a fatia do estado mineiro no consumo de cerveja do Brasil é de 14%. Minas Gerais tem 853 municípios e mais de 150.000 pontos de venda. Nós estamos presentes em 650 cidades e em 53.000 pontos de vendas no estado. Ou seja, temos muito espaço para conquistar”, afirma o executivo. Com 108.000 m² de área construída, o que equivale a quase quinze estádios de futebol, a fábrica detém catorze edificações administrativas e 22 industriais.
A estratégia parece ousada para o momento atual. No meio de março, quando bares e restaurantes foram fechados em função das medidas restritivas para evitar o contágio pelo novo coronavírus, a receita do grupo se diluiu drasticamente. “Nos assustamos com tudo isso. Em março, tivemos 50% de queda no nosso faturamento da noite para o dia”, diz Sá. Segundo ele, a pandemia trouxe um comportamento insólito: com estabelecimentos fechados, o consumo para o lar cresceu, elevando a circulação de latas no mercado, ao passo que as vendas de garrafas de cerveja evaporaram-se. “Com a reabertura dos bares, o consumo de garrafas voltou a crescer, mas ainda longe dos padrões habituais. Não sabemos ainda quando voltará ao normal.”
A inauguração do polo cervejeiro foi responsável pela geração imediata de 350 empregos diretos. Até novembro, quando sua capacidade produtiva estiver totalizada, serão 700 empregos diretos e 3.000 indiretos. Com alta tecnologia empregada, a empresa projeta ser possível atingir a meta de 3,3 litros de uso de água para cada litro de cerveja, um resultado alcançado apenas por cervejarias de alto padrão de produção e referência internacional. A proposta é utilizar todo o aparato para impulsionar a produção de puro malte, que tem tomado o espaço da pilsen no imaginário do consumidor. “Esta fábrica foi projetada para fazer cerveja puro malte, com uma tecnologia nova, específica para isso. Nós temos que acompanhar a tendência do consumidor. De um ano para cá, a participação da puro malte cresceu e já representa 20% da nossa receita”, afirma. A tendência é que, até meados do ano que vem, a fábrica já esteja habilitada para produzir, além de cervejas, os energéticos TNT Energy Drink.
Aposta no delivery
Um dos objetivos do Petrópolis é desenvolver maior participação no comércio eletrônico. Para isso, o grupo aposta na plataforma Bom de Beer, idealizada como um blog de informações sobre o mercado cervejeiro em 2016. Hoje, a Bom de Beer também é um e-commerce. A ideia é seguir os passos da Cervejaria Ambev, líder absoluta de mercado, que criou o Zé Delivery, um aplicativo que vende cerveja gelada a preço de supermercado e faz entrega em até 30 minutos na casa do consumidor, em 2016. “Eu confesso que nós estamos atrasados nisso. Acredito que deveríamos ter entrado antes, mas tudo tem a sua hora. Hoje, nós participamos das vendas online com a Bom de Beer, que é mais ou menos semelhante à concorrente. Estamos nos preparando para vender mais pela internet, coisa que não fazíamos no passado”, confessa.
Desde dezembro de 2019, a gestão do grupo cervejeiro está a cargo de Giulia Faria, de 29 anos. A única herdeira da cervejaria teve de assumir os holofotes em decorrência do envolvimento do fundador, Walter Faria, na Operação Lava Jato. Membros da família e diversos executivos do grupo foram acusados pelo Ministério Publico Federal (MPF) de lavagem de dinheiro que teria sido desviado de contratos públicos, especialmente da Odebrecht. Walter se entregou à Polícia Federal (PF) em agosto de 2019, mas responde ao processo em liberdade condicional, após ter pago fiança de 40 milhões de reais imposta pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).