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PIB brasileiro: Já dá para ver a luz

A divulgação dos dados do 3° trimestre confirma a expectativa de retomada da atividade econômica e permite — finalmente — sonhar com o desenvolvimento

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 14h57 - Publicado em 6 dez 2019, 06h00

Não faz muito tempo, a perspectiva de a economia brasileira avançar além das trevas da estagnação parecia remota — os números eram pouco animadores, com desemprego renitente na casa dos 12% e investidores estrangeiros batendo em retirada, tudo muito desalentador. No entanto, na última terça-feira, 3, a chance de o país sair do buraco começou a se desenhar com mais força e em um ritmo bem mais rápido do que o imaginado. Ainda que o palavrório inoportuno dos membros do governo continue a atrapalhar, as boas notícias vieram do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calculou o índice do crescimento da atividade econômica em 0,6% nos meses de julho, agosto e setembro. Não é um dado sensacional, mas foi superior ao esperado e suficiente para animar o gabinete do ministro Paulo Guedes. O índice também provocou frisson entre os altos executivos de consultorias e dos maiores bancos do país. Às pressas, os analistas dessas instituições trataram de revisar as projeções para o crescimento do produto interno bruto para 2019 e 2020. O banco americano Goldman Sachs elevou sua estimativa para este ano de 1% para 1,2%. Já o Santander subiu seus números para o mesmo patamar dos americanos, sendo que antes calculava o desenvolvimento em 0,8%. Para o ano que vem, já há apostas em um crescimento de até 2,5%. A esperança das instituições está calcada, principalmente, no aumento da confiança do empresariado nas conquistas recentes de Guedes. “A equipe econômica se mostra como a vertente que se salva dentro do governo, o que garante os investimentos”, destaca Gilberto Braga, economista do Ibmec.

Os números não deixam dúvidas: o aumento do nível de investimentos do setor privado no país alavancou o crescimento do PIB do Brasil no terceiro trimestre do ano — como se previa, a agenda reformista, a começar pelas mudanças na Previdência, já gera resultados. O índice que mede os aportes em bens de capital e infraestrutura registrou alta de 2% em relação aos três meses imediatamente anteriores. No acumulado do ano, a alta é ainda mais expressiva, de 3,1%. Os dados cravam uma mudança de perfil da economia brasileira: sai a vertente fundamentada na expansão do gasto público — que originou uma crise severa e corroeu o pilar econômico da ex-presidente Dilma Rousseff, entre 2014 e 2016 — para dar espaço à iniciativa privada como o motor do país. Guedes vem vendendo aos investidores a tese de que o crescimento da economia está atrelado ao ânimo do empresariado, enquanto a participação das instituições públicas perde relevância na geração de riqueza no Brasil. Os aportes do governo registram queda de 1% neste ano. Há quem diga que isso é ruim. O fato é que se trata de uma ótima notícia. No dia seguinte à divulgação do diagnóstico de crescimento do país, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou na mais alta pontuação de sua história, ultrapassando a marca de 110 000 pontos. “Há que comemorar esse avanço do setor privado no PIB nacional”, diz o economista Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES. “A iniciativa privada, com enorme potencial, estava estrebuchando enquanto seguia amarrada e sem perspectivas para avançar.”

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PARA CIMA – A construção civil avançou 1,3%: o melhor resultado desde 2014 (./.)

Entre os setores econômicos, o agronegócio superou as expectativas. Apesar de o campo ter sido um dos grandes propulsores da economia, havia no mercado certo pessimismo por causa da longa estiagem no trimestre. O avanço de 1,3% derrubou essa previsão. Em relação ao mesmo período do ano passado, a agropecuária avançou 2,1%. E o otimismo dos produtores rurais ainda encontra respaldo nas estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que prevê crescimento de 14,1% em 2020, quando o faturamento dos produtores de proteína animal deverá alcançar 670 bilhões de reais. Só para a carne bovina, a projeção é de expansão de 22,2%, a considerar a alta do dólar e a demanda internacional recentemente impulsionada pelo aumento na procura da China pelo produto.

Outro dado significativo para a economia nacional é a retomada da construção civil, que avançou 1,3% no trimestre, graças ao reaquecimento do mercado imobiliário. Dois motivos explicam essa alta: a inflação baixa e a taxa básica de juros (Selic) no menor patamar da história — dois indicadores que havia já duas décadas estavam acima do desejável.

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CAMPO DE OPORTUNIDADES – Agropecuária: o desempenho surpreendeu (Manoel Marques/.)

No entanto, nem tudo é alegria no Ministério da Economia. Embora tenha havido aceleração do PIB, o desemprego ainda atinge 12,4 milhões de brasileiros, o que tira o sono de Guedes. A renda per capita está, descontada a inflação, 8% abaixo da que foi registrada em 2013. O avanço de 0,8% do consumo das famílias entre julho e setembro foi impulsionado, em parte, pelo uso dos recursos sacados do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). “Mesmo com crescimento, a renda do brasileiro ainda não voltou a subir”, afirma Rubens Ricupero, ex-­ministro da Fazenda. “O desemprego só vai cair quando o país registrar avanços mais robustos.” Para piorar, os planos para acelerar a criação de vagas formais enfrentam resistências. O principal deles é a medida provisória conhecida como Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, que incentiva a contratação de jovens em busca do primeiro emprego. O projeto corre o risco de ser devolvido pelo Congresso ao Executivo por inconstitucionalidade. A taxação de 7,5% do seguro-desemprego como contribuição previdenciária não foi bem digerida pelos parlamentares.

Outro motivo de desconforto foram as revisões que o governo teve de realizar de dados fundamentais da economia. Em poucas semanas, informações sobre fluxo de dólares advindos de exportações e índices do PIB de trimestres anteriores foram alteradas — todas estavam subestimadas. Em um editorial, o jornal britânico Financial Times, referência entre investidores estrangeiros, pôs em xeque a qualidade dos dados produzidos no Brasil. Antes mesmo dos ingleses, porém, Guedes já havia identificado a origem do problema. Houve, de fato, erro nos cálculos provocado por informações que partiram do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) — o que deixou a prêmio a cabeça do presidente da instituição, Caio Mario Paes de Andrade. A suspeita é que funcionários do órgão tenham sonegado deliberadamente dados que refletiam a recuperação econômica. Trata-se de um esculacho com a credibilidade das instituições brasileiras, entre as mais sérias do mundo. É um problema a ser resolvido rapidamente, mas que não compromete o essencial: a luz está logo à frente. Depois de tanta escuridão, não vamos fraquejar logo agora.

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Publicado em VEJA de 11 de dezembro de 2019, edição nº 2664

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