Terceira maior economia global, os impactos do novo coronavírus no Produto Interno Bruto (PIB) do Japão não foram diferentes dos demais países do mundo: dados divulgados nessa segunda-feira, 17, em Tóquio, mostram que no segundo trimestre de 2020 o PIB do país caiu 27,8% na comparação anualizada. O resultado representa a maior queda desde 1980, início da série histórica. Na comparação com o trimestre anterior, a retração foi de 7,8%, também o pior desempenho para um trimestre da terceira maior economia do mundo.
A retração é resultado do fechamento de lojas e da paralisação da atividade econômica. Há um grande peso também na queda das exportações, tendo em vista que a China e EUA, seus principais parceiros comerciais, foram duramente afetados pela Covid-19. Apesar de acentuado, o tombo do Japão no 2º trimestre foi menor que de outras grandes economias. O PIB da zona do Euro encolheu 12,1% na comparação do 2º trimestre com o 1º, puxado pelo mau desempenho de Alemanha, França, Itália e Espanha. No Reino Unido, o tombo foi de 20% no 2º tri, maior queda das economias do G7 até o momento. Os Estados Unidos viram o PIB encolher 9,5% no período ou 32,9% na taxa anualizada.
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Clique e AssineAssim como outros países, o Japão lançou mão de medidas emergenciais para tentar arrefecer a crise, mas o resultado não foi tão bom quanto o esperado. Em abril, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, decidiu pagar 900 dólares para os cidadãos com o objetivo de compensar a desaceleração do consumo causada pela pandemia. Mesmo assim, os estímulos não foram suficientes para conter a derrubada no PIB. “Os cidadãos japoneses já possuem os bens que necessitam, por isso o crédito esporádico não é o suficiente para fazer com que a economia saia de uma situação e vá para outra. Além disso, a população do Japão proporcionalmente é uma das mais velhas do mundo, e eles têm o hábito de poupar”, diz Alexandre Uehara, especialista em Ásia da ESPM.
Desde o início do século, o país que sofreu uma bolha financeira e imobiliária até 1991 vem crescendo a patamares baixos. No final de 2012, o governo japonês adotou uma série de benefícios para incentivar a economia, o que contribuiu para o crescimento do país, mas a Covid-19 reverteu esse ciclo. O turismo, uma das apostas do governo para incentivar a economia sofreu um revés principalmente em Tóquio, que contabilizou um grande número de infecções. A cidade sediaria os Jogos Olímpicos, mas houve adiamento da competição para 2021. No período, o PIB real do Japão diminuiu para 485 trilhões de ienes, o menor desde o segundo trimestre de 2011, quando o país sofria os reflexos de 20 anos de recessão.
Esse baixo crescimento dos últimos 20 anos, no entanto, quando comparado ao restante do mundo se destaca devido ao investimento em tecnologia e crescimento de produtividade do país. “Embora o PIB japonês não tenha crescido muito, a produtividade continua elevada. A força de trabalho envelheceu, mas o Japão vem compensando isso nas últimas décadas com a robotização”, diz Gilmar Masiero, professor da FEA-USP e coordenador do Programa de Estudos Asiáticos.
Nessa segunda-feira 17, o Nikkei 225, principal índice da Bolsa de Valores de Tóquio que reúne as 225 principais ações do Japão, sendo 40% delas na área de tecnologia, fechou em baixa de 0,83%, mas os futuros oscilaram e fecharam no zero a zero, em leve alta de 0,13%. Apesar do impacto da Covid-19 no país, analistas estimam que o ele não perderá o posto de terceira maior economia mundial. “Se há algum ponto positivo para o Japão é que pelo menos a terceira posição está garantida por alguns anos. Mesmo o país crescendo pouco, há uma distância entre a economia japonesa e a alemã que dá a ele um fôlego”, diz Uehara.