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Por que a manutenção da Selic a 2% não é vista como plano para 2021

Copom divulga no final do dia o resultado de sua reunião. Inflação e risco fiscal pesam na taxa básica da economia

Por Luisa Purchio Atualizado em 10 dez 2020, 15h08 - Publicado em 9 dez 2020, 09h45
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  • Nesta quarta-feira, 9, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, divulgará o resultado da reunião que define os rumos da política monetária brasileira. A Selic, taxa básica de juros da economia, atualmente está em 2% ao ano e, diante do baixo crescimento econômico do país, é consenso no mercado a expectativa de que nada mudará a respeito nesta reunião. A questão chave que é aguardada pelo mercado, porém, é por quanto tempo a Selic se manterá nesse patamar. E, por isso, o comunicado dos membros do Copom é tão aguardado.

    Neste ano, em agosto, seguindo a tendência de outros bancos centrais internacionais, o Copom utilizou pela primeira vez a ferramenta “prescrição futura”, mais conhecida como “forward guidance”. Trata-se de uma sinalização sobre quando os juros poderão ser alterados e, na reunião de outubro, o Comitê afirmou que manteria a taxa em 2% uma vez que certas condições estavam em nível satisfatório, como as expectativas de inflação e o regime fiscal. Para a reunião que se encerra nesta quarta, grande parte do mercado espera alterações nessa previsão para o futuro.

    “O cenário é bastante desafiador, já não é tão favorável quanto três ou quatro meses atrás”, diz Alexandre Espírito Santo, economista da Órama. “Se a inflação no ano que vem ficar no centro da meta e o BC não subir o juros, ele vai trabalhar com o juro real negativo e isso traz problemas para a economia, principalmente para o Tesouro”, diz ele. Para Espírito Santo, a Selic subirá no final do segundo trimestre do ano que vem, para 3%.

    Nesse conflito começa a pesar o IPCA, a inflação oficial do país, que depois de meses de deflação, começou a acelerar devido à alta do dólar e à retomada do consumo, que começa a dar sinais de recuperação. As projeções do mercado financeiro para inflação aumentaram de 3,54% para 4,21% e diminuíram de 3,47% para 3,34%. Os números se aproximam do centro da meta do Banco Central, de 4% para 2020 e 3,75% em 2021, sendo que em 2020 passam dela, ficando na margem de tolerância. “O balanço de riscos para a inflação tornou-se menos favorável desde a última reunião, por estar acima do esperado ao consumidor e ao produtor, apesar da recente valorização do câmbio”, diz a VEJA Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse.

    Na avaliação de Srour, a taxa de juros deverá começar a subir em junho de 2021, alcançando 4,5% em dezembro. “É imperativo que o BC comece o processo de normalização da política monetária a fim de manter ancoradas as expectativas de 2021 e 2022”, afirma ela.

    Além disso, a baixa Selic tem criado um conflito nas contas públicas. Com o aumento dos gastos com a Covid-19 e a diminuição na arrecadação fiscal, o déficit público do país explodiu e se aproxima de encerrar o ano com uma dívida de 100% do PIB. Nesse cenário, a Selic em 2%, necessária para impulsionar o crescimento econômico em um ano difícil, torna-se um problema para atrair interessados em financiar a dívida pública do país. O risco do Brasil precificado pelo mercado é alto. Para comprar títulos com vencimento em janeiro de 2025, por exemplo, o mercado está cobrando um retorno de 6% em juros DI, um preço alto demais para o governo pagar a seus financiadores.

    Atualmente o Tesouro tem dificuldades para vender os seus títulos no longo prazo e está ocorrendo um encurtamento da dívida, o que desfavorece um planejamento dos recursos financeiros. Ao longo do ano, o Copom citou em suas atas a importância de se avançar com as reformas fiscais. Já em dezembro e ainda sem um orçamento para 2021, porém, o ano terminará sem uma melhoria significativa no desequilíbrio fiscal. Por isso, apesar de confortável para o mercado e para os investimentos, a Selic nesse patamar não será sustentável por muito tempo.

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