Por que Magalu anima investidores mesmo com a tensão no mercado financeiro
Na contramão da queda do Ibovespa, papéis da varejista se valorizaram após a aquisição de startup de serviços financeiros
A nova variante do coronavírus descoberta no Reino Unido parece que tirou o humor dos investidores na bolsa no mundo todo, inclusive no Brasil, levando o Ibovespa a cair cerca de 1,8% por completa aversão a risco. Mas os investidores do Magalu nem notaram o movimento. As ações da Magazine Luiza chegaram a subir mais de 3% no pregão desta segunda-feira, 21, e fechou com alta de mais de 2%, depois que a empresa anunciou a aquisição de uma fintech. Na visão de analistas, isso ajuda a colocar a empresa no mesmo rumo das grandes varejistas internacionais, como os chineses do Alibaba. Por 290 milhões de reais, a Magalu comprou a Hub Fintech, uma instituição de pagamentos que será usada para prestar serviços financeiros aos clientes da varejista com contas digitais, depósitos, transferências, incluindo o PIX, saques e serviços como carga de celular e de cartão de transporte.
De acordo com o Magalu, os cerca de 29 milhões de clientes pessoas físicas e os 40 mil vendedores do marketplace da empresa poderão ter sua conta digital bancária, gratuita e integrada ao superapp da loja. “Analisamos dezenas de fintechs no mercado. O processo foi longo porque tínhamos interesses bem específicos como uma tecnologia proprietária forte e com acesso ao Sistema Brasileiro de Pagamentos”. disse no comunicado do anúncio Frederico Trajano, CEO do Magalu.
As ações do Magalu dobraram de valor neste ano, na esteira da pandemia que fez com os serviços de comércio eletrônico fossem supervalorizados em momento em que as pessoas precisam manter distanciamento social. Mas não é de agora que Trajano revela os planos de tecnologia da empresa. No ano passado, ele já declarar que iria digitalizar o varejo brasileiro e que faria muito melhor do que o Alibaba. O site chinês é um império e protagonizou alguns anos um dos maiores IPOs da história. O grupo também tem um braço financeiro, nascido do comércio online. O Ant Group, que estava cotado para fazer o maior IPO da história, mais até do que do Alibaba, mas acabou esbarrando nos reguladores chineses do mercado financeiro.
Aqui no Brasil, o Magazine Luiza vai ter que esperar ainda a aprovação das autoridades para o negócio com a fintech Hub, mas analistas acreditam que não deve haver restrições. Os analistas do banco UBS estão otimistas e dizem que desde seu IPO em 2011, a equipe do Magalu entregou “um dos mais bem-sucedidos processos de transformação no Brasil”, escreveram após o anúncio da aquisição. “Magalu consolidou sua liderança em consumo de eletrônicos, e agora está entrando em novas categorias e serviços que podem permitir tornar-se uma das principais plataformas digitais de serviço completo”. De qualquer forma, eles alertam para o fato de não se saber ainda se o comportamento do consumidor que migrou para o comércio online durante a pandemia irá se manter.
A equipe de analistas do Goldman Sachs também está otimista e segue mantendo a recomendação de compra das ações da Magalu. Mas ponderam os riscos que a empresa enfrenta como um aumento da competição no setor não só com os operadores históricos como o de novos participantes no mercado brasileiro, como a Amazon. Também alertam para os investimentos acima do esperado que estão pressionando negativamente as margens da empresa, o fluxo de caixa e o torno. Outro ponto levantado é o custo de logística que tem ficado acima do esperado na medida em que o crescimento se move para regiões menor densidade populacional, sem contar com a concorrência agressiva nos grandes mercados com frete grátis e subsídios de remessa.