Por que indefinição na eleição dos EUA impulsiona ações de tecnologia
Nasdaq fecha em alta de quase 4%; Com corridas presidencial e no Senado apertadas, probabilidade de pacote fiscal robusto cai e techs ficam mais atrativas
Os mercados americanos tiveram o terceiro dia consecutivo de alta nessa quarta-feira, 4, quando se iniciou a contagem dos votos das eleições presidenciais e legislativas americanas. Diferentemente do que ocorreu na véspera, quando os americanos foram às urnas e os principais índices das bolsas de Nova York encerraram o dia com altas aproximadas, o dia foi marcado por uma diferença significativa entre eles. O índice Dow Jones encerrou em alta de 1,34% e o S&P 500 em +2,20%. Já a Nasdaq, a bolsa de tecnologia, surpreendeu e disparou 3,85%, a 11.590,78 pontos, patamar alcançado apenas em dois momentos na história: no pico da pandemia, em março, e próximo à divulgação do balanço do terceiro trimestre de Big Techs como a Apple, no mês passado.
O pleito presidencial entre o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump está equilibrado e o resultado das eleições só será definido ao longo da semana, Porém, o mercado também olha com cuidado para a definição no Senado. A casa tem 100 cadeiras, 35 das quais estão sendo disputadas nessas eleições. Até às 18h dessa quarta-feira, 4, os democratas estavam, no total, com 47 assentos, enquanto os republicanos com 48. Ainda há cinco postos na disputa, e a probabilidade de três deles serem conquistados pelos republicanos é grande, o que lhes dará 51 cadeiras, ou seja, a maioria da casa. Dessa forma, um pacote fiscal robusto dificilmente será aprovado, o que muda a dinâmica de crescimento da economia. Sem uma previsibilidade para o pacote, as ações de tecnologia ficam mais atrativas para os investidores. “Os republicanos são a favor de gastar menos e isso significa que o pacote fiscal será muito menor que os 2 trilhões de dólares propostos pelos democratas. Na falta de um pacote de estímulos maior, a única coisa que vai crescer são as empresas de internet”, diz Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos.
A Câmara dos Representantes, por sua vez, que possui 435 assentos, todos disponíveis para votação, deve se manter democrata: até às 18h, eles conquistaram 202 cadeiras, enquanto os republicanos 188. Esse quadro de oposição entre Câmara e Senado é conhecido como “gridlock”, que em inglês significa impasse. Ele é diferente do que estava sendo precificado pelos investidores antes do início da contagem de votos, e que veio impulsionando as bolsas americanas no início da semana. Fundamentado nas pesquisas, o mercado financeiro apostava que se estabeleceria em Washington uma “blue wave”, ou seja, uma onda azul, como é chamada a situação política na qual democratas dominam o Senado, a Câmara dos Representantes e a Casa Branca.
Com a perspectiva de uma melhor situação fiscal, o rendimento dos Bonds caiu nessa quarta-feira, 4, de 0,881% no fechamento anterior para 0,768% nos Títulos do Tesouro Direto de 10 anos, e de 1,654% para 1,544% para 30 anos. Dessa forma, o dólar está se desvalorizando em relação às moedas internacionais. O DXY, índice que mede a força da moeda americana em relação a um conjunto de moedas, principalmente o euro, caía 0,12% às 18h35 no horário de Brasília. No Brasil, as bolsas acompanharam a tendência o Ibovespa fechou em alta de 1,97%, a 97.866,61 pontos. O dólar comercial, por sua vez, teve um forte recuo em relação ao real, de 1,86%, a 5,6543 reais. Por aqui, além do cenário eleitoral nos EUA, pesou a aprovação da autonomia do Banco Central pelo Senado e a derrubada do veto presidencial sobre a prorrogação das desonerações.