O pacote de desonerações à indústria anunciado pelo governo federal na segunda-feira, 22, caiu de maneira indigesta ao mercado financeiro. O plano, que inclui uma previsão de 300 bilhões de reais em crédito para o setor, desagradou os investidores e fez o dólar disparar.
Depois de o dólar chegar a quase 5 reais e o Ibovespa amargar perdas na segunda, os indicadores começaram a terça-feira em estado de atenção. O dólar, que chegou a bater os 5 reais na abertura das negociações, operava em queda de 0,5%, cotado a 4,97 reais por volta das 11h. O Ibovespa também abriu ensaiando recuperação, com leve alta de 0,5%, nos 126.225 pontos. Na segunda-feira, o dólar encerrou em alta de 1,23%, aos 4,99 reais, enquanto o Ibovespa caiu 0,8%, para 126.602 pontos.
O novo programa, com cheiro de velho, apesar de bem-vindo à indústria, que trabalho junto ao governo em sua elaboração, acendeu o receio dos investidores em relação às políticas do passado petista, regadas a incentivos bancados com dinheiro público, muitas vezes mal distribuídos e, em muitos casos, sem retorno efetivo em ganhos de produtividade ou geração de emprego.
Isto em um momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sofre para convencer que irá cumprir sua promessa de zerar o déficit fiscal neste ano e em que as contas públicas vivem dias bem mais apertados do que aqueles dos primeiros mandatos de Lula, com a dívida alta e uma sucessão de quase dez anos com as contas no vermelho, ou seja, de gastos superando repetidamente as receitas.
“Fora o nome, é tudo coisa velha”, disse o economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman em entrevista ao Veja Mercado nesta manhã. “Crédito subsidiado, política de compras, proteção contra concorrência estrangeira, subsídios. Podia chamar ‘Velha Política Industrial’, continuou.
“Existe uma sensação de que a ‘neoindustrialização’, conforme proposta pelo governo, não passa de uma reformulação da política industrial ultrapassada, que se baseia na utilização de fundos públicos para promover determinados campeões nacionais”, escreveu a Empiricus em relatório a clientes nesta manhã.
“Além disso, há a preocupação com as implicações fiscais de possíveis emissões do Tesouro Nacional para financiar o BNDES é real, levantando questões sobre a viabilidade fiscal do programa. Em um ambiente de questionamento sobre as intenções do governo para 2024, o projeto não é bem recebido.”
O plano do governo
Anunciado no fim da manhã da segunda, o programa batizado de Nova Indústria Brasil traça ações para o desenvolvimento do setor até 2033 e prevê reduções de impostos para alguns setores, como indústria química e de semicondutores, além de planos de digitalização e ganhos de eficiências nos processos dentro do próprio governo.
Inclui, também, um pacote de 300 bilhões de reais em financiamentos, capitaneados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de recursos também da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e de mecanismos do mercado de capitais. O valor embute tanto empréstimos reembolsáveis quanto não reembolsáveis, ou seja, que serão pagos pelo governo a fundo perdido.