A Eletrobras informou na noite deste domingo, 24, que o presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior, renunciou ao cargo. Em fato relevante, a estatal diz que a renúncia tem base em “motivos pessoais” e que ele continua no cargo até 5 de março, “permitindo adequada transição para seu sucessor, ainda a ser indicado”. A mudança de comando a frente da estatal ocorre dias após o candidato à presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), colocar em dúvida a privatização da Eletrobras. As ações da companhia despencaram 11% na semana após a declaração de Pacheco.
A Eletrobras é uma das empresas, do plano de desestatização do governo federal, ‘favoritas’ a ser privatizada. Porém, para que a desestatização aconteça, é necessária a anuência do Congresso Nacional. A declaração de Pacheco é um importante termômetro para o futuro da companhia pois ele é apoiado tanto pelo Palácio do Planalto como por partidos de esquerda, sendo o mais forte candidato para comandar a casa.
No fato relevante, a empresa não faz menção a possível frustração no plano de desestatização, mas aproveitou para ressaltar os feitos da gestão de Ferreira Junior, destacando a reorganização da estatal de energia: “Sob sua gestão, a companhia atingiu lucros históricos, reduziu sua alavancagem a patamares compatíveis com a geração de caixa, reduziu custos operacionais com privatizações de distribuidoras e programas de eficiência, colocou em operação obras atrasadas, simplificou a quantidade de
participações acionárias, com a venda, incorporação e encerramento em cerca de 90 sociedades de propósito específico, aprimorou seu Programa de Compliance, padronizou estatutos sociais e alçadas de aprovação das Empresas Eletrobras e resolveu contenciosos importantes nos Estados Unidos decorrentes de reflexos da Operação Lava Jato, dentre outras realizações relevantes”. No comunicado, a empresa anunciou que Ferreira Junior participará de videconferência nesta segunda-feira, 25.
Nó das privatizações
Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” na última quinta-feira, Rodrigo Pacheco evitou se comprometer com os planos de privatização da companhia, ao alegar ser um processo longo e que demanda muito estudo. “Não é um raciocínio fácil dizer que a Eletrobras precisa ser vendida”, argumentou. “O foco agora haverá de ser a preservação da saúde pública, um programa social e o crescimento econômico a partir das reformas que sejam necessárias para o sistema tributário, a administrativa, as privatizações. Não essa da Eletrobras, mas de um nodo geral diminuir o tamanho do estado empresário”.
O plano do Ministério da Economia e do de Minas e Energia é privatizar a Eletrobras por meio de capitalização, ou seja, diluir o controle da estatal detido pela União com a venda de mais ações. Junto com os Correios, a empresa era apontada como uma das ‘preferidas’ do governo a serem desestatizadas neste ano. Porém, a venda da companhia apresenta resistência política já que a estatal responde por 30% da geração de energia do país e por 50% da transmissão. O projeto de capitalização foi enviado ao Congresso em 2019 e permanece por lá.
A Eletrobras não é a única estatal a apresentar ruídos políticos nos planos de reestruturação. Nas últimas semanas, André Brandão, presidente do Banco do Brasil, foi dado como demitido após anunciar um plano de enxugamento de agências e um programa de demissão voluntária, que desagradou o presidente Jair Bolsonaro. Ele não caiu pela interferência do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do ministro da Economia, Paulo Guedes. Porém, o peso da interferência política nos planos da empresa foi grande no mercado financeiro. Como mostra reportagem de VEJA dessa semana, a ação colocou em dúvida — mais uma vez — a fidelidade da administração à agenda liberal, parte da plataforma que elegeu Bolsonaro.