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Qualicorp dá R$ 150 milhões a fundador e ações derretem na bolsa

José Seripieri Filho recebeu 150 milhões da empresa que fundou para não abrir concorrente; investidores fogem do papel

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 2 out 2018, 15h15 - Publicado em 1 out 2018, 17h58

Um anúncio feito pela Qualicorp na manhã desta segunda-feira, 1, fez derreter as ações da companhia na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. Os papéis caíram 29,8%, cotados a 11,57 reais, na esteira do comunicado de que o fundador e presidente, José Seripieri Filho, ficará na companhia, manterá 15% do capital, não poderá vender as ações nem abrir empresa concorrente pelo prazo de seis anos. Em troca, receberá 150 milhões de reais.

A empresa, que é considerada a maior administradora de planos de saúde coletivos do Brasil, listou como a terceira mais negociada da bolsa, o que é mais uma evidência da fuga dos investidores. A Qualicorp tem peso de apenas 0,3% na composição do Ibovespa – ou seja, sua representatividade no mercado de ações é pequena quando comparada às grandes da B3. Porém, nesta segunda, o seu volume de negócios ficou atrás apenas da Petrobras, que tem peso de 11,3%, e da Vale, com 12,9%.

O acordo de “não competição” entre Seripieri e a Qualicorp pode ser, sob o prisma das informações públicas até aqui, “o maior escândalo societário do mercado brasileiro desde o caso Oi”, avalia Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), que representa acionistas minoritários com um conjunto de investimentos que supera R$ 600 bilhões.

“É preciso uma ação incisiva da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Ministério Público e dos acionistas”, disse Cunha. Segundo ele, esse tipo de transação configura transferência de valor da companhia para o controlador, por meio do pagamento de um “prêmio de controle escondido”.

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Cunha, da Amec, destaca que a empresa está efetuando um pagamento para algo que o executivo já possui dever fiduciário. Além de presidente da companhia, o executivo é membro do conselho da companhia.

Cunha frisa, ainda, que tal acordo, se não punido, irá prejudicar todo o mercado de capitais brasileiro, colocando a credibilidade do mesmo em risco. Os acionistas minoritários da Qualicorp, segundo o presidente da Amec, estão “abismados” com o acordo divulgado pela companhia.

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No caso da Oi, há alguns anos, houve questionamentos e reclamação de acionistas minoritários de que a reestruturação proposta pela empresa transferiria indiretamente dívidas dos controladores para a tele.

A diretora Financeira e de Relações com Investidores da Qualicorp, Grace Cury Tourinho, disse na tarde desta segunda, em teleconferência com analistas convocada pela empresa para esclarecer o acordo, que o executivo “pode sair a qualquer momento”, ao longo dos seis anos do contrato. “Mas que se ele quiser sair, vai ter que respeitar na íntegra o acordo e devolver valor proporcional”.

Segundo Grace, a Qualicorp poderá decidir se o prazo de seis anos será estendido por mais dois. Ela afirmou que, no quinto ano, apenas por vontade da companhia, este prazo pode ser estendido para oito anos.

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Outra possibilidade, disse a executiva na teleconferência, é a de que no quarto ano do contrato se decida por uma ampliação para até sete anos.

Questionada por um analista sobre quanto custaria essa ampliação, a executiva informou que o valor será semelhante ao pago proporcionalmente por ano, reajustado pela inflação. Ou seja, de cerca de R$ 25 milhões adicionais a cada ano. “Se a companhia entender que ele deve permanecer mais tempo, podemos tomar essa decisão”, afirmou.

O valor pago ao executivo, reforçou Grace, equivale a uma remuneração média calculada por três consultorias – McKinsey, Spencer Stuart e Mercer. “O valor equivale à remuneração de executivos com a mesma posição”, disse.

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Segundo ela, o mercado de saúde passa por um momento de transição, em que os clientes não conseguem mais absorver determinados reajustes, e que Seripieri “é uma pessoa ímpar, que ninguém acha” no mercado.

A McKinsey desmente a informação da Qualicorp e informa que 1não atua em qualquer definição referente a mérito ou valor de acordos de não competição com executivos’.

Em nota, a Qualicorp informa que  Seripieri Filho não é controlador da companhia. E que a decisão foi tomada “visando um alinhamento estratégico de médio prazo” em decisão unânime do Conselho de Administração, “sem a participação do sr Seripieri e respeitados todos os ritos legais”.

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A companhia diz ainda que o contrato com Serapieri Filho ‘não pode ser rescindido antes do final do prazo de seis anos, mesmo que ele deixe de atuar como administrador’. “Apenas em caso de tomada hostil de controle ou da destituição da maioria do Conselho antes do final do respectivo mandato, Seripieri Filho poderia rescindir o contrato antes do final do prazo desde que reembolse à companhia o valor da indenização na proporção do prazo ainda não cumprido”.

 

Júnior, Qualicorp
José Seripieri Filho, presidente da Qualicorp (Julia Moraes/Fiesp/Divulgação)
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