A redução da taxa básica de juros, a Selic, no ritmo projetado pelo mercado aumentaria os riscos de a inflação furar o teto da meta neste ano e no próximo. É o que afirma o Relatório de Inflação divulgado pelo Banco Central (BC) nesta quinta-feira, 27. “A probabilidade de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância aumentou para 2024 e 2025”, diz o documento.
Segundo o BC, caso a Selic siga a trajetória desenhada pelo mercado no Boletim Focus, o risco de o IPCA (índice de preços ao consumidor amplo) estourar o teto da meta subiu de 19% para 28% neste ano, e de 17% para 25% no próximo. Nos dois casos, o centro da meta é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Assim, o teto de 2024 e de 2025 é de 4,5%.
O Relatório de Inflação divulgado hoje se baseia nos cenários captados pelo Focus de 14 de junho. Nele, o mercado previa que a Selic terminará o ano em 10,5%, baixando para 9,5% ao fim de 2025, e chegando a 9% em dezembro de 2026.
“O aumento da projeção de inflação no horizonte relevante resultou principalmente da atividade econômica mais forte que o esperado, que levou a uma elevação no hiato do produto estimado, mas foi contido pela subida da taxa de juros real”, explica o relatório desta quinta-feira.
A alta do dólar, a inércia da projeção de inflação de curto prazo e a elevação da taxa de juros neutra (taxa que nem ajuda, nem prejudica a atividade econômica) também impulsionaram as expectativas inflacionárias nos próximos anos, segundo o BC.
A autoridade monetária afirma que a deterioração do cenário seria pior, sem o aumento da taxa de juros real. A medida foi considerada “fundamental” pelo BC. Outro fator positivo, na comparação com a penúltima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em maio, foi a queda do preço do petróleo.
O BC acrescenta que, em seu cenário básico, após um pico no segundo trimestre, a inflação tende a retomar sua trajetória de queda a partir de julho. O ritmo, contudo, não será suficiente para mantê-la na meta. No cenário de referência, o IPCA termina 2024 em 4%, cai para 3,4% em 2025, e para 3,2% no ano seguinte.
Parecem números positivos, já que todos se encontram dentro da margem de tolerância, mas o que deixou o BC com a pulga atrás da orelha foi a sua deterioração. No Relatório de Inflação de março, o cenário de referência apontava um IPCA de 3,5% para este ano, e de 3,2% para o próximo. Portanto, mesmo freando o corte da Selic, as expectativas agora são 0,5 ponto percentual maiores para 2024, e 0,2 pp para 2025.
Ao mesmo tempo, as projeções do mercado, captadas pelo Boletim Focus, também pioraram, reforçando a desancoragem das expectativas. “Em meio a aumento de incertezas nos cenários doméstico e externo, as expectativas de inflação para 2025 e 2026, que já se encontravam acima da meta de inflação para o período, aumentaram de 3,5% para 3,8% e 3,6%, respectivamente, segundo a mediana apurada pela pesquisa Focus”, diz o BC no relatório de hoje.