Com o início da queda de juros, safra recorde de soja, aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados e o próprio arcabouço fiscal, aprovado na terça-feira, 22, o mercado começou a ajustar expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Analistas, que em janeiro previam crescimento de 0,8% da economia em 2023, agora já falam em 2,3%.
Os dados, de fato, corroboram o otimismo. Os últimos indicadores para a indústria, comércio e serviços confirmaram a melhora da produção e do emprego no trimestre. A indústria cresceu 0,4% na margem, com ajuste sazonal, com forte contribuição do extrativismo mineral (2,7%). No comércio ampliado e nos serviços, observou-se crescimento do volume para o último trimestre. Outro indicador importante para mensurar os serviços de transporte é visto pelo fluxo nas estradas, que cresceu 0,7%. De forma agregada, o indicador de atividade do Banco Central (IBC-br), a prévia do PIB, sinalizou que a atividade geral cresceu 0,63% em junho. Além disso, o mercado de trabalho segue robusto. A população ocupada, com ajuste sazonal, apresentou crescimento nos principais setores, como indústria (1,8%), comércio (2,0%) e serviços (2,4%).O desafio é não perder a oportunidade e cair em novo voo de galinha. “Só tem uma forma de o Brasil crescer pela primeira vez em 40 anos de forma sustentável e equilibrada: pela aprovação da reforma tributária”, diz a ministra do Planejamento, Simone Tebet.
Em entrevista a VEJA, Tebet afirma que a reforma tributária trará condições de igualdade de competição para a indústria nacional e sugere que o crescimento pode ser ainda maior do que as estimativas oficiais.
No início do ano, o mercado falava em crescimento de 0,8% do PIB em 2023. A expectativa agora é de crescimento de 2,3%. As expectativas seguirão sendo surpreendidas? Nós somos os primeiros a mostrar com dados e métricas que o Brasil cresceria entre 2,1% e 2,3% mesmo se não fizéssemos mais nada a partir do relatório de crescimento do PIB, ancorado no resultado do agronegócio, que cresceu 1,9% no trimestre. Isso de forma conservadora. Desde então, aconteceram duas situações: vimos uma desaceleração maior da inflação de alimentos e serviços, que muitos achavam que não ia acontecer, e o início da queda de juros e o indicativo de que 0,50 pontos percentuais será a régua desse processo.
Alguns analistas já falam em crescimento de 3% no ano. Isso está no radar da equipe econômica? A gente não pode falar em 3%, nem poderia falar sem estudos prontos, dependemos de números mensais. Então não temos nada oficial. Nós temos a obrigação de trabalhar de forma conservadora e absolutamente segura. Na nossa projeção, o crescimento previsto já era de 2,3% antes desses dois fatores que mencionei. Significa que podemos chegar em 2,5%. O mercado já está com projeção três vezes maior que no início do ano.
O desempenho do PIB neste primeiro semestre foi puxado pela safra de soja recorde do agronegócio. A indústria está acompanhando esse bom desempenho? A indústria está patinando e não tem acompanhado o agronegócio. A reforma tributária, que é a reforma da indústria, vai tirar carga da indústria e gerará empregos e produtividade. Isso, claro, vai impulsionar o PIB. Indústria forte faz a roda da economia girar. Ela só precisa de duas coisas: a reforma tributária e crédito mais barato.
O Brasil não cresce de forma sustentável há pelo menos uma década. O que garante que o crescimento previsto para este ano não será só mais um “voo de galinha”? Só tem uma forma de o Brasil crescer pela primeira vez em 40 anos de forma sustentável e equilibrada: pela aprovação da reforma tributária. Fazemos a lição de casa, honramos compromissos, mas olhando para fora, para que o Brasil gere emprego e renda, precisamos de uma indústria competitiva que gere renda, emprego e crescimento. E isso só virá quando a indústria estiver em condições de igualdade de competição com outros países.