As montadoras convocaram 82 recalls envolvendo 1,336 milhão de veículos em 2017. Mas apenas 125.350 carros foram levados à inspeção, ou seja, menos de 10% do total. Os dados são da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), do Ministério da Justiça.
“O recall é o procedimento de chamar de volta o consumidor para o reparo de um produto com defeito e evitar que o risco se manifeste e cause acidentes”, explicou o coordenador-geral interino da Senacon, Gabriel Reis Carvalho.
Segundo a secretaria, as informações são atualizadas a cada 60 dias pelas empresas, ou seja, os números podem variar – mais consumidores podem ter levado o veículo para inspeção ou outros recalls podem ter sido convocados.
O total de recalls convocados até setembro (102) é similar ao mesmo período de 2016, quando foram feitas 105 convocações. De acordo com a Senacon, o Brasil é um dos países que tiveram maior crescimento na quantidade de recalls na última década. Em 2006, foram 43 convocações no país. Em 2016, esse número subiu para 138, um aumento de quase 221% – o valor representa o recall de todos os produtos, inclusive eletrônicos e motocicletas.
“O recall é um tema complexo e discutido em todo o mundo. Quase nenhum país tem nível de excelência nesse atendimento. A exceção é o Japão, onde o carro não pode ser vendido se tiver recall pendente, então é relativamento comum o atendimento chegar a 100%”, disse Carvalho.
Segundo ele, o baixo atendimento dos consumidores ao recall pode ser explicado por falha de comunicação das empresas e outros fatores ligados ao comportamento do dono de veículo. “Um segundo aspecto é quando o consumidor se nega a atender o recall, teve gente que ficou sabendo do recall de um molho de tomate, mas preferiu jogar no lixo do que levar o produto para troca. Também existe no Brasil uma resistência em realizar o recall de forma clara e transparente. Às vezes a empresa esconde o recall ou tenta mascarar o problema”.
Carvalho ressaltou que não há prazo para que o recall expire. “Podem se passar 10 anos, mas o consumidor ainda tem direito ao serviço, mesmo que o produto esteja fora da garantia ou que o dono não seja mais a pessoa que comprou”.
Para a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), o recall representa uma atitude madura das empresas, que buscam soluções para eventuais falhas. Ainda segundo a associação, muitos proprietários não levam seus veículos para a manutenção. “Um dos principais motivos para que isso ocorra é o fato de que os fabricantes só possuem os dados do primeiro proprietário, ou seja, não têm a informação se o veículo foi vendido outras vezes e nem quem o comprou”.
No Brasil, a indústria automobilística é responsável por 80% dos recalls.
Nova regra
Uma medida do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) deve melhorar o número de recalls atendidos. Desde 24 de agosto, as fabricantes, montadoras e importadores terão acesso às informações dos proprietários dos veículos.
A partir de 12 de outubro, os consumidores também vão poder consultar os recalls em andamento no site do Ministério da Justiça. A iniciativa permite a emissão de alertas rápidos às pessoas cadastradas na plataforma – é possível escolher a categoria de produtos pela qual deseja receber o aviso.
De acordo com Carvalho, a divulgação e aprofundamento do tema podem ser táticas para diminuir a discrepância entre o número de chamamentos e recalls atendidos pelos consumidores. “Recebemos críticas falando do aumento do recall no Brasil, pessoas perguntando se isso significa que tem mais produtos perigosos no mercado. Mas achamos que não, isso quer dizer que somos capazes de detectar mais esses problemas. O recall tem que ser visto como parte da relação de consumo, não só com a perspectiva negativa”, diz ele.
“O Brasil produz 2,5 milhões de carros por ano. Em média, cada um deles tem 5.000 peças. Com essa complexividade, não achamos razoável que o produto não tenha falhas. O recall é um remédio para garantir que o consumidor continue seguro”, explicou.