A decisão unânime entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa de juros no Brasil inalterada, em 10,5% ao ano, se alinha fortemente com as expectativas de participantes do mercado, que esperavam para o comunicado de hoje uma convergência dos diretores em relação ao atual estágio da política monetária.
Por outro lado, crescem as dúvidas sobre a reação e a condução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em torno do tema, já que nem mesmo os membros por ele indicados ao grupo foram favoráveis a prosseguir com os cortes.
Todos os diretores concordaram em interromper o ciclo de sete cortes da Selic visto até aqui: Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira, indicados por Lula, votaram em sintonia com Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso, Renato Dias de Brito Gomes e o presidente do BC, Roberto Campos Neto.
“Foi uma decisão unânime, e o Copom não cedeu à pressão política. Essa era a maior dúvida, pois o presidente Lula criticou veementemente o colegiado nos últimos dias”, afirma Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital. “Amanhã devemos observar queda no dólar e nos juros futuros, enquanto que a bolsa deve abrir em alta, refletindo maior otimismo com a política monetária.”
Para participantes do mercado, a decisão de hoje mostra que o Copom vem tomando decisões técnicas, o que reforça a credibilidade em relação à política monetária. No comunicado de hoje, o Comitê deixou claro que a interrupção do ciclo responde a um processo inflacionário mais lento e um ambiente internacional mais desafiador, com dúvidas em relação ao início do corte de juros nos Estados Unidos.
“Desde maio, foi instaurada uma crise de confiança em relação ao futuro do Banco Central, então a unanimidade em conjunto com a redação do comunicado, que tem um tom bem duro em relação a manter a taxa de juros em nível restritivo, devem contribuir para uma abertura mais leve do mercado na quinta-feira”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Apesar disso, a economista reforça: esse alívio provavelmente será momentâneo, porque ainda há preocupações em relação ao futuro do BC na troca de comando e também diante da crise de confiança com as contas públicas e a política fiscal. “Essa última questão ainda reserva desafios e pode continuar prejudicando o ambiente para a economia brasileira.”
Nos próximos dias, os investidores deverão acompanhar de perto novas declarações de Lula e não descartam que o presidente suba o tom contra o BC e Roberto Campos Neto, o que pode reforçar os receios em relação à nomeação do novo presidente da autoridade no fim do ano. Nos últimos dias, ataques feitos pelo presidente ao BC pressionaram ativos brasileiros, levando o dólar a bater nos 5,48 reais e o Ibovespa a estacionar na casa dos 120 mil pontos.