Black Friday: assine a partir de 1,00/semana
Continua após publicidade

Uso de Cannabis avança na Califórnia – e será liberado em coffee shops

Um empurrão a uma indústria que começa a estabelecer bem-vindas regras

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h23 - Publicado em 8 out 2023, 08h00

Vastamente debatida planeta afora, a legalização da maconha — ora para fins medicinais, ora para uso recreativo — já é realidade em um amplo leque de países em que o mercado de Cannabis vai ganhando escala com velocidade. Em nenhum lugar ele é tão profícuo quanto na Califórnia, onde ultrapassou a próspera indústria de vinho e acaba de receber um empurrão adicional: uma lei recém-aprovada no mais progressista de todos os estados americanos liberou os coffee shops ao estilo da pioneira Amsterdã, na Holanda. Ali, desde os anos 1970 pode-se consumir a droga livremente em cafés espalhados por toda a cidade. É um novo degrau em um setor agora vistoso na paisagem californiana, berço de históricas marchas em prol dos direitos civis, com butiques cada vez mais moderninhas e repletas de opção. “Todas as pesquisas revelam que os californianos querem consumir Cannabis socialmente, na legalidade e de modo seguro”, disse a VEJA Matt Haney, autor do projeto de lei dos coffee shops, previsto para entrar em vigor em janeiro de 2024.

Não é uma discussão trivial nem de resposta fácil. As pesquisas científicas seguem alertando sobre os danos potenciais à saúde causados pelo uso intensivo de maconha — e mesmo lugares em que o consumo dela é legalizado martelam nesse ponto. A questão essencial é que, ao retirar a droga da esfera criminal, a compra na mão de traficantes vai cedendo espaço às lojas certificadas, um passo favorável à queda da criminalidade. Aconteceu na própria Califórnia, a primeira região do país a dar o aval ao uso recreativo, em 2016, uma década depois de abraçar o consumo medicinal. Os crimes violentos ali caíram 15% após a medida. Os caminhos para a liberação, ainda envoltos em dúvidas, estão sendo testados e lapidados. Mesmo Amsterdã, um caso exemplar, vem revendo aspectos da política implantada no passado, já que virou uma espécie de Disney dessa e de outras drogas liberadas, acumulando os efeitos deletérios de não ter demarcado limites para usuários vindos de todo o canto.

À LUZ DO DIA - Plantação autorizada da erva: um desestímulo ao tráfico
À LUZ DO DIA - Plantação autorizada da erva: um desestímulo ao tráfico (Mark Abramson/The Washington Post/Getty Images)

A Califórnia está justamente atenta ao modelo holandês, impondo normas com o objetivo de assimilar a droga em sociedade sem prejudicá-la, este um desafio também enfrentado em países como Uruguai, Canadá, México e tantos outros. No rol de restrições californianas, não pode haver concentração de pontos de venda de Cannabis num mesmo quarteirão e eles devem se situar a pelo menos 300 metros de escolas. É também ilegal consumir a droga no meio da rua. Há mais de 1 000 butiques registradas na Califórnia, sendo São Francisco, a capital do Vale do Silício, sede da maioria delas. “Boa parte das lojas segue o conceito de open shopping, em que você pode circular à vontade, manusear os produtos e colocá-los em uma cesta, modelo que ajuda a remover o estigma”, explica Robbi Ranin, à frente da Sparc, rede de lojas onde tudo é feito de maconha: flores, extrato, tinturas e até camisetas de cânhamo, variedade de Cannabis empregada em itens têxteis.

Lojas como a MadMen e a Cookies, que exibem estilo clean e organizado semelhante ao dos templos de consumo da tecnologia, como as lojas da Apple, oferecem prateleiras ultravariadas. Cada cliente pode escolher a mistura que quiser, em blends personalizados de ervas que dão graça à brincadeira e agitam as vendas. Enquanto uma subespécie é propagandeada como energizante e estimuladora da criatividade, outras são anunciadas como combatedoras de estresse ou da falta de sono e promotoras do alívio de dores — nem tudo cientificamente comprovado. Há cerca de 700 variedades à disposição, todas de nomes que impulsionam a compra: Blue Dream (sonho azul) e Wedding Cake (bolo de casamento), entre muitas mais. Também os preços são para todos os bolsos. Um grama parte de 5 dólares, mas pode ultrapassar os 100.

Continua após a publicidade

selo maconha

Vários países que legalizaram o uso recreativo da Cannabis não são produtores, criando contradições, a exemplo do que se vê em Amsterdã. Como o plantio por lá é proibido, os traficantes aportam na cidade dos belos canais para comercializar a carga, elevando a criminalidade, e uma parcela acaba ainda por se estabelecer na também lucrativa produção de drogas sintéticas. Nas engrenagens da indústria californiana, um naco relevante dos 6 bilhões de dólares contabilizados anualmente vem de fazendas legalizadas, que substituíram as remessas que antes ingressavam de forma escusa pelas fronteiras vindas sobretudo do México. No Brasil, a discussão se encontra em fase bem anterior. Como ocorre em outros 41 países, aqui o uso da Cannabis como medicamento é autorizado — e as atenções estão agora voltadas para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde a descriminalização do porte de maconha está sendo avaliada pela Corte. Que a experiência internacional sirva para iluminar matéria tão complexa — e que não seja só fumaça.

Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2023, edição nº 2862

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.